sábado, 28 de março de 2009

Altamiro Borges

A máfia da mídia (SIP) condena Lula

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB - Partido Comunista do Brasil
Fonte: ADITAL





Em relatório divulgado na semana passada, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que reúne os magnatas da mídia privada, incluiu o presidente Lula na lista dos governantes contrários à "liberdade de expressão" - junto com Hugo Chávez, Evo Morales e outros. O texto afirma que "o presidente brasileiro sempre ataca a imprensa e lança críticas desmedidas quando o enfoque do noticiário não lhe agrada". A SIP teme as mudanças políticas na America Latina. "Agora são os governos que não só estão abusando da imprensa, como estão atiçando as chamas do ódio".

Para justificar a inclusão de Lula na lista, o documento menciona a tentativa do governo de criar, em 2004, o Conselho Federal de Jornalismo, e as críticas do presidente às manipulações da mídia - como na recente entrevista à revista Piauí, no qual afirmou "que a leitura dos jornais lhe causa azia". A maior preocupação da SIP, entretanto, é com a convocação da Conferência Nacional de Comunicações para dezembro. Ela teme que este processo prejudique a "liberdade de imprensa" e já pressiona o governo para limitar este debate democrático e estratégico na sociedade.

Instrumento do imperialismo ianque

A SIP realmente não gosta da democracia. Ela reúne os barões da mídia que apoiaram os golpes militares no continente e sustentaram as ditaduras sanguinárias. No auge do neoliberalismo, eles prosperaram com os subsídios públicos e na orgia do "livre mercado". Agora, estão desesperados com as vitórias de governantes progressistas na América Latina e com o debate destravado sobre a democratização das comunicações. A SIP é a fachada desta máfia midiática. Não tem qualquer moral para falar em "liberdade de imprensa", que ela confunde com liberdade dos monopólios.

Sediada em Miami, ela defende os interesses das corporações capitalistas, dissemina as políticas imperialistas dos EUA e agrega os setores mais reacionários da mídia. A SIP se apresenta como "independente" dos governos, mas seu presidente é primo do ministro da Defesa e irmão do vice-presidente da Colômbia. No seu relatório anterior, ela teve a caradura de elogiar os "avanços" na relação do governo narcoterrorista de Álvaro Uribe com a imprensa, sendo que a Colômbia é um dos recordistas mundiais em assassinatos de jornalistas e sindicalistas.

Jules Dubois, o homem da CIA

Num acalentado estudo, intitulado "Os amos da SIP", o jornalista Yaifred Ron faz um histórico assustador desta entidade. Conforme comprova, "a Sociedade Interamericana de Imprensa é um cartel dos grandes donos de meios de comunicação do continente, que nasceu nos marcos da II Guerra Mundial e se moldou no calor da Guerra Fria para protagonizar uma história de defesa dos interesses oligopólicos, de aliança com os poderes imperiais e de atentados contra a soberania dos povos latino-americanos". Com base em inúmeros documentos, ela demonstra que a entidade tem sólidos e antigos vínculos com a central de "inteligência" dos EUA, a temida CIA.

Ela foi fundada em 1943 numa conferência em Havana, durante a ditadura de Fulgencio Batista. Num primeiro momento, devido à aliança contra o nazi-fascimo, ela ainda reuniu alguns veículos progressistas. Mas isto durou pouco tempo. Com a onda marcatista nos EUA e a guerra fria, ela foi tomada de assalto pela CIA. Em 1950, na quinta conferência, em Quito, dois funcionários da agência ianque, Joshua Powers e Jules Dubois, passam a comandar na entidade. Dubois será seu coordenador durante 15 anos e teve seu nome registrado no edifício da entidade em Miami.

Desestabilizar governos progressistas

A SIP se torna um instrumento da CIA para desestabilizar os governos progressistas da América Latina. Para isso, os estatutos foram adulterados, garantindo maioria às publicações empresariais dos EUA; a sede foi deslocada para Miami; e as vozes críticas foram alijadas. "Em resumo, eles destruíram a SIP como entidade independente, transformado-a num aparato político a serviço dos objetivos internacionais dos EUA", afirma Yaifred. Na década de 50, ela fez raivosa oposição ao governo nacionalista de Juan Perón e elegeu o ditador nicaragüense Anastácio Somoza como "o anjo tutelar da liberdade de pensamento". Nos anos 60, seu alvo foi a revolução cubana; nos anos 70, ela bombardeou o governo de Salvador Allende, preparando o clima para o golpe no Chile.

"A ligação dos donos da grande imprensa com os regimes ditatoriais latino-americanos tem sido suficientemente documentada e citada em várias ocasiões para demonstrar que as preocupações da SIP não se dirigem a defesa da liberdade, mas sim à preservação dos interesses empresariais e oligárquicos". Na fase mais recente, a SIP foi cúmplice do golpe midiático na Venezuela, em abril de 2002, difundido todas as mentiras contra o governo democrático de Hugo Chávez. Este não vacilou e considerou seus representantes como personas non gratas no país. Ela também tem feito ataques sistemáticos aos governos de Evo Morales, Rafael Correa e Cristina Kirchner.

Medo da conferência no Brasil

Atualmente, o maior temor da SIP decorre das mudanças legislativas que objetivam democratizar os meios de comunicação na América Latina. Qualquer iniciativa que vise regulamentar o setor e diminuir o poder dos monopólios é taxada de "atentado à liberdade de imprensa". Como informa Yaifred, "para frear qualquer ação governamental que favoreça a democratização da mídia, a SIP se uniu a outra entidade patronal regional, a Associação Interamericana de Radiodifusão (AIR)". Ambas declararam guerra as mudanças legislativas em curso na Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina. Daí o medo da realização da Conferência Nacional de Comunicação no Brasil e os ataques descabidos ao presidente Lula, que até é bastante conciliador com os barões da mídia.

Léo Lince

Direita togada

Léo Lince é sociólogo. Fonte: Correio da Cidadania


No começo do mês, 2 de março, o jornalista Ricardo Noblat, em sua coluna regular de "O Globo", desenhou bifurcações imaginárias para se colocar a seguinte questão: que papel desempenha no cenário político brasileiro o ministro Gilmar Mendes, atual presidente do Supremo Tribunal Federal?

Se, segundo ele, a situação é de funcionamento regular e democrático das instituições, "cenário otimista", o bom juiz é o que só fala nos autos. Não se mete em política, tampouco se faz sócio de empresas e negócios. O solene poder de julgar, dar a última palavra, requer recato, contenção e sobriedade. Entretanto, se o quadro é de erosão generalizada das instituições, "cenário pessimista", o bom juiz poderia ser aquele que "rompe o silêncio que a toga lhe obriga" para, no rigor da lei, defender a ordem ameaçada. Herói ou bufão, bom ou mau juiz, o papel de Gilmar Mendes se decifra no cenário real da luta política. "Você decide", diz Noblat.

Em sabatina realizada pela "Folha de S. Paulo" (súmula publicada na edição de 25/03), o ministro Gilmar Mendes forneceu, ao opinar sobre um vasto leque de pontos da pauta política, a sua própria resposta para a questão: está na ofensiva e se considera imbuído de missão salvífica. A matéria do jornal, depois de informar sobre o clima tenso entre o ministro, entrevistadores e manifestações de apoio e crítica por parte da platéia, traz o seguinte trecho: "Mendes afirmou que o juiz De Sanctis, com sua atitude, ‘quis desmoralizar o STF, apostando que a opinião pública respaldaria aquela decisão’. Para o ministro, se isso prevalecesse, De Sanctis seria hoje ‘o supremo juiz do Brasil’".

O trecho é confuso, está truncado, mas muito importante. A atitude através da qual o juiz Fausto De Sanctis procurou, segundo Mendes, desmoralizar o STF todos conhecem: é a ordem de prisão contra o banqueiro Daniel Dantas. Ao dar plantão no Supremo para revogar, principalmente, a segunda ordem de prisão contra o indigitado, o presidente do STF imagina ter salvo, no corpo do banqueiro, o espírito das instituições. Soltar Daniel Dantas, são palavras do ministro, evitou a desmoralização da nossa Suprema Corte.

O raciocínio do ministro vai além. Especula sobre o possível respaldo da opinião pública ao mandado de prisão e suas repercussões no equilíbrio geral no quadro da política. Soltou o banqueiro, evitou a desmoralização do STF e, além do mais, preveniu um possível e indesejável (para ele) deslocamento da opinião pública. Ao valorizar o seu gesto como crucial, o ministro busca papel de protagonista do momento político. É do que se trata quando se afirma: "se isso prevalecesse, De Sanctis seria hoje o supremo juiz do Brasil". A versão espelhada desta frase é mais do que evidente: não prevaleceu, barrei a catástrofe, logo, o supremo juiz do Brasil sou eu.

Gilmar Mendes fala pelos cotovelos e faz política de forma ostensiva. Opina sobre qualquer assunto, chama para si o foco das atenções e opera na linha da mais absoluta nitidez ideológica. Ele se oferece como pólo de condensação e rearticulação da tradição autoritária e do pensamento conservador. Tratar a questão social como caso de polícia, criminalizar os movimentos, usar a lei como chicote para disciplinar os pobres, entre outros, são temas que readquirem relevância com o agravamento da crise. Os democratas de todos os matizes devem abrir o olho: muito cuidado com a direita togada.

Para que servem mesmo as agências classificadoras de risco?

A companhia de seguros AIG recebeu a nota “AA” e o banco Lehman Brothers recebeu “A” (notas que apontam baixíssimo risco e alto grau de confiabilidade para investimentos), um mês antes de seu colapso. A partir deste exemplo, articulistas do The New York Times recomendam que investidores rompam com a dependência aos conselhos dessas agências na hora de definir investimentos. "Em vez de dependerem de letras arbitrárias, os investidores deveriam considerar toda a informação disponível sobre um investimento, incluindo aí os preços do mercado".

Agência Telam - Argentina. Tradução: Katarina Peixoto. Fonte: Agência Carta Maior

Em um artigo publicado dia 17 de março no The New York Times, articulistas do jornal questionam se os investidores e reguladores do mercado devem seguir ouvindo os conselhos das agências classificadoras de risco ou “provedoras de informação financeira”. O texto intitulado “Com um F de Fracasso”, assinado por Jerome S. Fons e Frank Partnoy, analisa o desempenho de empresas como Standard & Poor’s e Moody’s durante a crise econômica.

Os autores – que já fizeram parte das equipes técnicas dessas agências – perguntam por que, depois de mais de um ano de crise e diante da ausência de qualquer alarme sobre sua eclosão, os reguladores e investidores continuam dependendo das “provedoras de informação financeira”. Uma “classificadora de risco” é uma empresa que avaliar o quão seguro é investir dinheiro em um país ou em alguma corporação.

Os articulistas citam o exemplo da empresa de seguros AIG que recebeu a nota “AA” e do banco Lehman Brothers que recebeu “A” (notas que apontam baixíssimo risco e alto grau de confiabilidade para investimentos), um mês antes de seu colapso. E atribuem esse erro a problemas decorrentes de “má regulação”.

“Muitas regulações financeiras e empréstimos a empresas e economias nacionais dependem dessas qualificações, de onde uma nota A pode destravar um mercado e um C torná-lo um deserto sem créditos”, escreveram. Fons e Partnoy acrescentaram: “A maior parte do pânico na AIG surgiu de qualificações automáticas nas operações de troca de dívida por ações, nas quais pagamentos de bilhões de dólares estadunidenses dependiam de como Moody’s e Standard & Poor’s classificavam o risco de crédito da AIG”.

Eles explicaram que “neste contexto, reduzir uma categoria da AIG teria significado um aumento de US$ 8 bilhões em seu passivo. E se as agências Standard & Poor’s e Moody’s vivem dos milhões que cobram de empresas como AIG para avaliar suas ações, poderiam agir para quebrá-las economicamente?”, perguntaram.

A partir dessa conclusão, os articulistas recomendaram terminar com a dependência gerada pelas agências classificadoras, tanto para as regulações sobre crédito quanto para os investimentos privados. “Os mercados financeiros podem funcionar sem estas agências”, defenderam. Em vez de dependerem de letras arbitrárias, acrescentaram, os investidores deveriam considerar toda a informação disponível sobre um investimento, incluindo aí os preços do mercado. Por fim, recomendaram aos investidores o uso de uma ferramenta esquecida, mas de nenhum modo obsoleta”: “Essa ferramenta se chama juízo”, concluíram.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Carta aberta de cientistas franceses a Bento XVI sobre a questão dos preservativos

Cinco especialistas franceses da área da saúde publicaram uma carta aberta ao Papa Bento XVI após suas declarações sobre a camisinha. Os estudiosos publicaram o texto no jornal Le Monde, 25-03-2009, em que afirmam que "ainda é tempo" de o Papa rever as suas declarações, "para o bem dos homens e das mulheres da África e do mundo inteiro". A carta é assinada por Bertrand Audoin, diretor-executivo da Sidaction, ONG francesa de combate à Aids; Françoise Barré-Sinoussi, pesquisadora em virologia no Instituto Pasteur, na França, prêmio Nobel de medicina de 2008; Jean-François Delfraissy, diretor da Agence Nationale de Recherche sur le Sida e les Hépatites Virales; e Yves Levy, presidente do conselho científico da Sidaction. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS



Vossa Santidade,

A sua declaração no avião que o levava à África provocou consternação e suscitou numerosas reações indignadas do mundo científico e político, de doentes de Aids e das associações que lutam diariamente no campo para frear a epidemia e ajudar os doentes.

Por quê?

Porque essa declaração contradiz os resultados de 25 anos de pesquisa científica. Esses estudos mostram que o preservativo é uma barreira impermeável aos agentes infecciosos sexualmente transmissíveis [1]. As normas internacionais de fabricação desse instrumento de prevenção asseguram-lhe uma maior eficácia.

A análise global de quase 140 artigos científicos dedicados ao controle de casais em que os dois parceiros são soropositivos demonstra, de maneira inconfundível, que o uso regular do preservativo permite reduzir em pelo menos 90% o risco de transmissão do HIV, assim como de outras doenças sexualmente transmissíveis [2].

Essas pesquisam mostram também que o uso do preservativo e as campanhas de prevenção sexual foram e continuam sendo o principal freio à difusão da epidemia em todo o mundo, também na África e na Ásia. No Brasil, a política de promoção e de distribuição dos preservativos entre a população em geral, por exemplo, contribuiu fortemente com o controle da epidemia.

Porque a sua declaração mostra um cinismo irresponsável. O senhor não pode ignorar que, entre os 33 milhões de pessoas com HIV, quase 22 milhões vivem na África, justamente onde o senhor escolheu se manifestar sobre a Aids. O senhor sabe que, dentre os 2,7 milhões de pessoas que se infectaram com o HIV em 2007, 45% têm entre 15 e 24 anos. São esses jovens, pelos quais o senhor espera ser escutado, que a sua posição ameaça, dentre outras coisas, expor a um maior risco de infecção do HIV. A sua posição sobre esse problema é perigosa para a humanidade.

Porque o senhor não pode ignorar que os últimos 25 anos de luta contra essa epidemia foram caracterizados por disputas científicas, mas também políticas. A sua posição, evidentemente ideológica, o associa àqueles que trazem na consciência uma pesada responsabilidade. Ninguém ignora que a negação do papel do HIV na Aids por parte do presidente Thabo Mbeki atrasou a introdução de tratamentos antiretrovirais na África do Sul, o que provocou a morte de cerca de 300 mil pessoas.

Alimentamos a esperança de que, de novo, os nossos colegas e os doentes que lutam cotidianamente contra a epidemia não se deixem desviar da sua luta por declarações que testemunham um trágico atraso em consideração à urgência e à gravidade da situação. Todos sabemos que o uso do preservativo deve se situar em um processo global de prevenção, que integra a informação sobre a doença, o acesso aos tratamentos e, mais amplamente, a medidas individuais de redução dos riscos.

Mas sabemos também que o seu cargo permite-lhe consultar os especialistas mais eminentes antes de se expressar publicamente sobre uma epidemia que já atingiu 60 milhões de pessoas e matou 25 milhões delas. As suas opiniões deveriam ter evitado esse posicionamento de consequências dramáticas que, seguramente, marcará o seu pontificado. Ainda é tempo de rever as suas declarações, para o bem dos homens e das mulheres da África e do mundo inteiro.

Notas:

1. "Information note on effectiveness of condoms in preventing sessually transmitted infections including HIV". Who/Unaids, Genebra, agosto de 2001. Nota dos autores.

2. "Effectiveness of male latex condoms for HIV/STD prevention". Conferência Nacional de Prevenção ao HIV. Abstract T1-C1301. Atlanta, 2003. Nota dos autores.

Tom Heneghan

Físico francês vence Prêmio Templeton por defender a importância da dimensão espiritual da vida


O físico e filósofo francês Bernard d'Espagnat venceu o Prêmio Templeton 2009, considerado o maior prêmio do mundo concedido a uma única pessoa, pelo seu trabalho ao afirmar a dimensão espiritual da vida. A Fundação Templeton anunciou o prêmio de US$ 1,42 milhões na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em Paris, no dia 16. A reportagem é de Tom Heneghan, publicado pela agência Reuters, 16-03-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Fonte: UNISINOS






Os organizadores do prêmio disseram que trabalho de d'Espagnat, 87 anos, com física quântica revelou uma realidade além da ciência que a espiritualidade e a arte podem ajudar a compreender.

John Templeton Jr., presidente da Fundação criada por seu pai, falecido no ano passado, disse, durante a cerimônia, que d'Espagnat "explorou o ilimitado, as aberturas que as novas descobertas científicas oferecem de puro conhecimento e de questões que chegam ao verdadeiro coração da nossa existência e da nossa humanidade".

Entre os vencedores anteriores, estão o escritor russo Alexander Solzhenitsyn, o evangelista norte-americano Billy Graham e a irmã albanesa Madre Teresa.

D'Espagnat, um ex-físico sênior do laboratório de partículas físicas do Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), em Genebra, e professor em universidades francesas e norte-americanas, afirma em seu livro que a física quântica moderna mostra que as realidades últimas não podem ser descritas.

A física clássica desenvolvida por Isaac Newton acredita que pode descrever o mundo por meio de leis da natureza que ela conhece ou irá descobrir. Mas a física quântica mostra que as minúsculas partículas contestam essa lógica e podem agir de formas indeterminadas.

D'Espagnat afirma isso com relação a uma realidade além do alcance da ciência empírica. As intuições humanas na arte, na música e na espiritualidade podem nos levar mais perto dessa realidade última, mas ela é tão misteriosa que não podemos concebê-la ou mesmo imaginá-la.

"O mistério não é algo negativo que deva ser eliminado", disse. "Pelo contrário, é um dos elementos constitutivos do ser".

Sobre física e filosofia

Em uma entrevista, d'Espagnat afirmou à Reuters que cresceu como católico, mas não praticou nenhuma religião e se considera um espiritualista.

Algumas descobertas desconcertantes da física quântica o levaram a acreditar que toda a criação tem uma totalidade e uma inter-relação que muitos cientistas deixam de lado ao tentar dividir os problemas em suas partes componentes em vez de entendê-los em contextos mais amplos.

Um deles é o entrelaçamento, a forma em que duas partículas subatômicas permanecem unidas mesmo que se afastem para muito longe uma da outra, de forma que os experimentos com uma irão automaticamente afetar a outra, sem qualquer comunicação aparente entre elas.

Essa visão colide com o ponto de vista materialista largamente difundido entre os cientistas.

"Os materialistas consideram que somos explicados inteiramente pela combinação de pequenas coisas pouco interessantes como os átomos e os quarks", disse d'Espagnat, cujo último livro em inglês – "On Physics and Philosophy" – foi publicado em 2006 [Em português, seu único livro publicado é "Olhares sobre a matéria" (Editora Instituto Piaget, 1994)].

"Eu acredito que nós, enfim, viemos de uma entidade superior à qual devemos reverência e respeito e à qual não deveríamos tentar nos aproximar tentando conceitualizá-la muito", disse. "É mais uma questão de sentimento".

Mesmo que não possam ser testadas, as intuições que as pessoas têm quando são movidas pela grande arte ou por crenças espirituais ajudam-nas a compreender um pouco mais das realidades últimas, disse d'Espagnat.

"Quando ouvem uma boa música, as pessoas que gostam de música clássica têm a impressão de que chegam a alguma realidade dessa forma. Por que não?", questionou.

Marcio Pochmann

Desemprego: o que fazer?

As consequências sociais decorrentes da presente crise difundem-se rapidamente, tendo o desemprego e a precarização dos postos de trabalho a maior centralidade na organização do bem-estar humano. Sem trabalho, os indicadores sociais tendem a se degradar pronunciadamente. A afirmação é de Marcio Pochmann em artigo no jornal Valor, 19-03-2009. Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor licenciado do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.
Fonte: UNISINOS




Na Depressão de 1929, quando o nível de ocupação atingiu patamares reduzidos jamais vistos, o enfrentamento do desemprego não se deu exclusivamente pela porta da geração de novos postos de trabalho. Não há dúvidas que somente a retomada sustentada da economia terminou por abrir condições adequadas de elevação do nível de ocupação, mas isso se deu no longo prazo, a partir da superação das causas que haviam levado à grande crise dos anos 1930.

Por conta disso, parcela importante das ações de enfrentamento do desemprego ocorreu para além da demanda econômica de absorção de trabalhadores. Ou seja, a redução do desemprego transcorreu sobre a determinação da oferta de mão-de-obra, com intuito de reduzi-la em função da crescente ociosidade da força de trabalho. Assim, por exemplo, ganhou maior importância o conjunto de ações voltadas tanto para a postergação do ingresso como a antecipação da saída do mercado de trabalho.

Ao invés da entrada no mercado de trabalho a partir dos 5 ou 6 anos de idade, conforme experiência anterior da sociedade agrária, houve a postergação para os 15 anos, após passagem pelo ensino básico. Ou seja, a educação passou a antecipar qualquer experiência laboral, da mesma forma que depois da conclusão de um determinado tempo de trabalho regular (geralmente 30 anos para mulher ou 35 anos para o homem), foi definida a saída do mercado de trabalho para a inatividade financiada por fundos públicos.

Nesses termos, a superação da crise do desemprego da década de 30 implicou uma nova combinação da jornada de trabalho com o tempo de vida. A jornada do trabalho pela sobrevivência, que representava 4/5 do tempo de vida do ser humano antes da Depressão de 1920, passou para não mais do que 2/5 em função da postergação do ingresso e da antecipação da saída do mercado de trabalho. Na ausência de trabalho para todos, foram sendo constituídas as condições políticas necessárias para a acomodação da oferta de mão-de-obra com garantia de renda à quantidade e qualidade da demanda econômica de trabalhadores.

Essa breve e sintética recuperação de algumas ações adotadas para fazer frente ao maciço desemprego de 70 anos atrás tem por objetivo contribuir com o debate atual sobre o desafio de enfrentar a nova onda de trabalhadores ociosos que a atual crise está gerando. Como os postos de trabalhos cortados pela força da crise econômica dificilmente serão recuperados no curto prazo, as respostas tradicionais se mostram insuficientes, ao mesmo passo que as soluções neoliberais de corte de direitos, sem conseguir gerar vagas adicionais, levam à maior precarização das ocupações existentes.

A oportunidade de implantação de uma agenda decente e inovadora de combate ao desemprego atualmente em expansão requer a ousadia de ações transformadoras da relação entre a jornada de trabalho pela sobrevivência e o tempo de vida. Para uma sociedade cada vez mais focada no conhecimento, parece não haver razões para o ingresso no mercado de trabalho antes dos 25 anos de idade, apenas após a conclusão do ensino superior. Isso não significaria, contudo, a possibilidade de experiência laboral voltada exclusivamente à aprendizagem teórica abstrata, mas a crescente experimentação prática, com maior aproximação possível do ensino aos requisitos da demanda econômica dos trabalhadores, por meio do estágio e períodos de labor por curtos períodos no ano, como nas férias educacionais.

Nesses termos, questiona-se no Brasil, por exemplo, por que somente os filhos dos pobres estão condenados ao ingresso no mercado de trabalho tão cedo, o que implica, muitas vezes, o abandono da escola, quando não a combinação de brutais jornadas de atividades de 16 horas por dia (oito horas de trabalho, duas a quatro horas de deslocamentos e quatro horas de frequência escolar). A aprendizagem de qualidade torna-se muito distante nessas condições de reprodução humana.

Os filhos dos ricos, por permanecerem mais tempo na escola, ingressam mais tardiamente no mercado de trabalho e ocupam os principais postos, com maior remuneração e status social, enquanto os filhos dos pobres somente disputam a base da pirâmide do mercado de trabalho, transformado num mecanismo de reprodução das desigualdades no país.

A condenação ao trabalho precoce somente pode ser ultrapassada mediante a substituição da renda do trabalho por uma garantia monetária ao estudo. Isso seria extremamente útil ao universo de 500 mil estudantes de mais de 15 anos que se matriculam no ensino médio, mas não conseguem frequência anual devido à sua dependência à renda do trabalho.

Da mesma forma, caberia também o avanço da alternativa de gradual redução da jornada de trabalho a partir do avanço do envelhecimento humano, bem como a instalação de programas de pré-aposentadorias que permitissem a passagem menos drástica da ocupação para a inatividade remunerada, sem mais o choque atual que representa o ingresso na aposentadoria. Talvez por isso, o Brasil registre um terço dos aposentados e pensionistas ainda ativos no mercado de trabalho, bem como forte concentração de trabalhadores de mais idade no exercício do duplo trabalho e horas extraordinárias.

Por fim, ademais do encaminhamento de ações de atenção à renda básica de cidadania, abre-se a oportunidade de implantação da política de emprego garantido de 12 horas semanais a todos entre 25 a 55 anos de idade. Na ausência de demanda econômica de trabalhadores, o fundo público deveria cobrir o emprego da mão-de-obra ociosa para atividades de qualificação e exercício laboral em atividades socialmente úteis, como, por exemplo, a urbanização das periferias dos centros metropolitanos, assistência técnica de micro e pequenos empreendimentos e serviços de atenção a inativos (idosos, doentes e portadores de deficiências).

Antonio Cechin e Jacques Távora Alfonsin

A Campanha da Fraternidade e a violência do templo-mercado contra o templo-corpo-vítima


"Tanto o tema como o lema da Campanha da Fraternidade deste ano assumem candente atualidade para reflexão e ação imediatas em nosso Estado do Rio Grande do Sul para todos quantos não querem cair na tentação de engessar o lema (justiça) no tema (segurança)", escrevem Antonio Cechin e Jacques Távora Alfonsin no artigo que publicamos, hoje. Antonio Cechin é irmão marista, miltante dos movimentos sociais. Jacques Távora Alfonsin é advogado do MST e procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado. Fonte: UNISINOS



Estamos em plena quaresma de 2009. As Igrejas, nessa época, reservam tempo e espaço para a meditação e a penitência. O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é “fraternidade e segurança pública”, com o lema “a paz é fruto da justiça”. Tanto o tema como o lema assumem candente atualidade para reflexão e ação imediatas em nosso Estado do Rio Grande do Sul para todos quantos não querem cair na tentação de engessar o lema (justiça) no tema (segurança).

O tema da segurança, como se sabe, é sobejamente aproveitado por aquela parte preponderante da mídia, para transformar toda a notícia em má notícia, como ocorre agora com a criminalização diária dos movimentos sociais. Repressão pesada aos protestos populares, denúncias judiciais das suas lideranças, fechamento de escolas, mesmo que legalmente conveniadas para atender especificidades próprias de gente pobre.

O lema, diferentemente, inquire pela realidade das causas que fundamentam as atividades desses movimentos, aquelas muito bem camufladas sob o pretexto de que se deve respeito à lei. Não a prevista na Constituição Federal, da dignidade humana e da cidadania, por exemplo, mas somente aquela lei que garanta segurança para a propriedade privada, por maior que seja a insegurança com que essa possa vitimar multidões, como está ocorrendo agora com os desempregos massivos, as licenças ambientais apressadas, os abusos de autoridade praticados contra quem ousa reclamar.

Mesmo sob o risco de ideologizar a interpretação de um episódio vivido por Jesus Cristo, uma realidade como essa, no contexto do tema e do lema da Campanha da Fraternidade, parece poder inspirar as Igrejas e a ação dos cristãos contra a insegurança e a injustiça com que os poderes políticos e econômicos afligem os pobres, fazendo passar por “segurança” e “justiça”.

Encontrando mercadores no templo, em Jerusalém, Jesus os expulsou junto com as mercadorias, armado apenas de um relho ameaçador, mas principalmente de uma autoridade moral inquestionável. Desafiado pelos circunstantes a fazer um milagre que sustentasse tal autoridade, afirmou que, se o tal templo fosse destruído, ele o reconstruiria em três dias (Jo 2, 13 e seguintes), esclarecendo o evangelho que, aí, o templo referido seria o do Seu Próprio Corpo Morto e posteriormente Ressuscitado.

Que tem a ver tal episódio com a segurança e a justiça com que a Campanha da Fraternidade pretende inspirar a defesa urgente dos direitos sob risco ou já violados, pela realidade que o nosso Estado vem assistindo? O templo dos direitos patrimoniais, baseados no ter da propriedade privada, levou séculos para ser construído, enriquecendo poucos e vitimando muitos. Enrijeceu como um templo-de-pedra, mas, para seu pesar, vem sendo contestado por um templo-refúgio (como o das catacumbas), feito do próprio corpo miserável e pobre das suas vítimas (como o corpo de Jesus Cristo crucificado).

Do ponto de vista exclusivamente jurídico, pode-se dizer que esse é o templo-lugar dos direitos humanos fundamentais sociais, baseados no ser, não por acaso identificado como de segunda, terceira e, até, de quarta geração, se levarmos em conta a moderna defesa do meio-ambiente. Feito pedra, o primeiro somente poderá ser destruído pelo segundo, levada em conta a advertência de Jesus Cristo, pela ressurreição do amor e do respeito devido ao mesmo corpo de quantas/os o primeiro matou e vem matando.

Haja fé, pois, daquelas/es que acreditam nessa vitória, nessa boa nova em favor de vítimas, num tempo tão urgente, necessário e breve ( significado escatológico dos 3 dias), quanto longa, penosa e sacrificial tem sido a construção do templo-mercado- de-pedra dos direitos patrimoniais (aqui se considerando significado simbólico dos 46 anos que Salomão levou para construir o templo de Jerusalém).

Parece não haver outra saída que não a apontada pela vida com liberdade, não a das coisas-mercadoria mas sim a dos corpos escravizados, oprimidos, excluídos. Meio termo, em defesa da vida, parece impossível: “Creio eu que nós seres humanos nos dividimos em dois grupos: aqueles que dão (e damos) a vida, é claro, e aqueles que não dão, certamente, a vida; e na minha opinião, conforme se esteja neste ou naquele grupo mencionado, se vêem as coisas de maneira diferente. Como se compreendem os direitos humanos, a democracia, a liberdade, instituições como o sistema bancário, o aparelho judiciário, as forças armadas...varia enormemente conforme se esteja neste ou naquele grupo. E isto, creio eu, vale também no essencial para a compreensão da religião, da Igreja, da fé, da oração, da esperança... Em suma, da vida e da morte.” [1]


Nota:

1. SOBRINO, Jon. A fé em Jesus Cristo. Trad. de Ephraim F. Alves, Petrópolis: Vozes, 2000, p. 18.

quarta-feira, 25 de março de 2009

1% detém 40% da riqueza mundial

Um por cento da população mundial detém 40% das riquezas do planeta. O dado foi publicado ontem pela Universidade das Nações Unidas, que lançou o que considera ser o maior projeto internacional para pesquisar a desigualdade no mundo e as disparidade sociais.



A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 25-03-2009.

A riqueza ainda está concentrada em alguns países. Das pessoas que fazem parte da elite mundial, 64,3% (ou a parcela de 1% dos mais ricos) estão nos Estados Unidos e Japão. O Brasil tem apenas 0,6% desses indivíduos. A pobreza também está concentrada: 25%, com patrimônio inferior a US$ 178, vive na Índia. Na China, 6% e no Brasil, 2,2%.

Fonte: UNISINOS

terça-feira, 24 de março de 2009

Nicolas Ridoux

Por uma vida mais frugal

“Devolver o protagonismo à pessoa, restaurar o espírito crítico frente ao modelo dominante do ‘cada vez mais’ e abrir o debate sobre a nossa forma de viver e seus limites, saber tomar tempo para manter uma relação equilibrada com os outros, esse é o caminho proposto pela filosofia do decrescimento. Trata-se de substituir o crescimento estritamente econômico por um crescimento ‘em humanidade’”, escreve Nicolas Ridoux em artigo publicado pelo jornal espanhol El País, 21-03-2009. A tradução é do Cepat. Fonte: UNISINOS



Na origem da atual grave crise há uma nova manifestação da falta de limites, da busca infinita de onipotência. As empresas e entidades financeiras estavam perseguindo a obtenção de lucros em crescimento perpétuo. Nesta busca incessante do “cada vez mais”, os mercados existentes não bastavam, e foi preciso criar mercados inclusive onde não existiam. As consequências de tudo isso na economia real serão infelizmente de grande alcance, e afetarão especialmente os mais fracos. Como consequência desta crise, a maioria dos nossos dirigentes, antes neoliberais, de repente parece ter descoberto o Lord Keynes. Pois bem, o que é que Keynes nos diz? “A dificuldade não é tanto conceber novas ideias como saber livrar-se das antigas”.

É isso que pretende o movimento do “decrescimento”, que propõe uma crítica construtiva, argumentada, pluridisciplinar, de recusa dos limites que constrangem as nossas sociedades contemporâneas, para assim poder livrar-nos desse “cada vez mais”. A filosofia do decrescimento trata de explicar que em muitas ocasiões “menos é mais”.

O que exatamente está acontecendo em nossos dias? Não estamos sofrendo uma crise, mas um conjunto delas: crise ecológica (energética, climática, perda da biodiversidade, etc.); crise social (individual e coletiva, aumento das desigualdades entre as nações e no interior delas, etc.); crise cultural (inversão de valores, perda dos referenciais e das identidades, etc.); a isso que acrescenta agora a dupla crise financeira e econômica. Todas elas não são crises isoladas, mas o resultado de um problema estrutural, sistêmico, cuja origem está na ausência de limites e na busca obsessiva do “cada vez mais”.

O que se pode dizer sobre a crise econômica do ponto de vista daqueles que somos “objetores do crescimento”? Que ninguém se equivoque, porque decrescimento não é sinônimo de recessão. Como escrevi há mais de dois anos: “Não é preciso escolher entre crescimento ou decrescimento, mas entre decrescimento e recessão. Se as condições ambientais, sociais e humanas impedem que o crescimento prossiga, devemos antecipar-nos e mudar de direção. Se não o fizermos, o que nos espera é a recessão e o caos”.

Agora entramos em recessão, mas que ninguém se engane, não em uma sociedade de “decrescimento”. Para começar, não mudamos a nossa organização social, e na atual organização todas as instituições e mecanismos redistributivos se alimentam da ideia de crescimento. Numa sociedade assim, quando o crescimento falha, a situação é inevitavelmente dramática. O decrescimento é algo totalmente diferente. Significa crescer em humanidade, isto é, tendo em conta todas as dimensões que constituem a riqueza da vida humana.

O decrescimento não é um crescimento negativo, nem propugna uma recessão, nem uma depressão; seria ridículo tomar nosso atual sistema e colocá-lo pelo avesso e dessa maneira tentar superá-lo. O decrescimento supõe que devemos desacostumar-nos com a nosso vício ao crescimento, descolonizar o nosso imaginário da ideologia produtivista, que está desconectada do progresso humano e social. O projeto do decrescimento passa pela mudança de paradigma, de critérios, por uma profunda modificação das instituições e uma melhor distribuição da riqueza.

É claro que o crescimento econômico pretende aliviar a sorte dos mais desfavorecidos sem tocar muito as rendas dos mais ricos, para não enfrentar a sua reação política. Nesse sentido, o decrescimento passa necessariamente por uma redistribuição (restituição) da riqueza.

Num mundo de recursos limitados, as coisas não podem crescer de maneira indefinida. Por isso, “a objeção ao crescimento” fala da necessidade de compartilhar o retorno da sobriedade, em particular para aqueles que consomem demais. Fazemos nossas estas palavras de Evo Morales, presidente da República da Bolívia, que no dia 24 de setembro de 2008 afirmou na Assembleia da ONU: “Não é possível que três famílias tenham rendas superiores à soma dos PIBs dos 48 países mais pobres (...) Os Estados Unidos e a Europa consomem, em média, 8,4 vezes mais que a média mundial. É necessário que baixem seu nível de consumo e reconheçam que todos somos hóspedes da mesma Terra”.

É preciso acabar com a ideia de que “o crescimento é progresso” e a condição sine qua non de um desenvolvimento justo. O crescimento é adornado por seus defensores com todas as virtudes, por exemplo, em matéria de emprego. Contudo, como disse Juan Somavia, diretor-geral da OIT, em seu relatório de 2007: “Dez anos de forte crescimento tiveram apenas um leve impacto – e só num pequeno punhado de países – na redução do número de trabalhadores que vivem na miséria junto com suas famílias. Assim como também não fez nada para reduzir o desemprego”.

Com efeito, os lucros empresariais foram tão grandes que nem sequer um forte crescimento foi capaz de criar empregos, daí a persistência do desemprego. A recessão agrava brutalmente este problema. Mas é ilusório pensar que, para que todo o mundo tenha trabalho, é preciso restaurar o crescimento econômico e aumentar cada vez mais as quantidades produzidas; esta superprodução não faz nenhum sentido, não atinge o pleno emprego e, acima de tudo, compromete gravemente as condições de sobrevivência do planeta.

Voltamos a Keynes, mesmo que não àquele que relança as economias moribundas graças à intervenção do Estado, mas àquele que escrevia no seu artigo Perspectivas econômicas para nossos netos (1930) que seus netos (quer dizer, a nossa geração) deveriam libertar-se da coação econômica, trabalhar 15 horas semanais e tender a uma maior solidariedade que permitisse compartilhar o nível de produção já alcançado. Caso contrário, segundo ele, cairíamos numa “depressão nervosa universal”.

A filosofia do decrescimento hoje diz que devemos trabalhar menos para viver melhor. Não ter o olhar posto no poder aquisitivo (que, frequentemente, é enganoso e reduz o ser humano à exclusiva dimensão de consumidor), mas buscar o poder de viver. Trata-se de mudar a atual organização da produção e distribuir melhor o trabalho: utilizar os lucros obtidos para que todos trabalhem moderadamente e todas as pessoas tenham um emprego. Esta reorganização deve ir acompanhada de uma revisão das escalas salariais. Não é aceitável que alguns empresários ganhem vários centenas ou milhares de vezes mais do que o salário de seus próprios trabalhadores.

Reduzir a quantidade de trabalho permitiria assim mesmo que pudéssemos levar uma vida mais equilibrada, que nos realizássemos através de coisas que não sejam exclusivamente a atividade profissional: vida familiar, participação na dinâmica do bairro, vida associativa, e também atividade política, prática das artes...

Um modo de vida mais frugal, que tomasse a sério os valores humanistas e tivesse em conta a beleza, levaria a produzir menos, mas com melhor qualidade. Uma produção de qualidade pede habilidade e tempo, e ofereceria numerosos empregos e mais gratificantes. Supõe não recorrer sistematicamente ao poder industrial (exige sobriedade energética), o que melhoraria a necessidade de força de trabalho (como se observa ao comparar a agricultura intensiva, altamente mecanizada, grande consumidora de petróleo, mas parca em mão-de-obra, com a agricultura biológica). Desta maneira, talvez também se pudesse equilibrar melhor o trabalho intelectual e trabalho manual, e combater ao mesmo tempo a epidemia da obesidade que ataca as nossas sociedades muito sedentárias.

Devolver o protagonismo à pessoa, restaurar o espírito crítico frente ao modelo dominante do “cada vez mais” e abrir o debate sobre a nossa forma de viver e seus limites, saber tomar tempo para manter uma relação equilibrada com os outros, esse é o caminho proposto pela filosofia do decrescimento. Trata-se de substituir o crescimento estritamente econômico por um crescimento “em humanidade”. É uma tarefa estimulante, um desafio que vale a pena tentar.

sábado, 21 de março de 2009

Carta de Leandro Fortes dirigida a jornalistas brasileiros

Gilmar Mendes censurou programa da TV Câmara, denuncia jornalista

Jornalista da revista Carta Capital denuncia que programa da TV Câmara que tratava das supostas revelações contidas no computador apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha, foi retirado da página da TV a pedido do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Leandro Fortes escreveu carta dirigida a jornalistas brasileiros relatando o caso e protestando contra a censura. O jornalista Leandro Fortes, da revista Carta Capital, escreveu uma carta aberta aos jornalistas brasileiros denunciando a prática de censura por parte do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Segue a íntegra da carta. Trechos do programa mencionado por Leandro Fortes estão disponíveis no Youtube.
Fonte: Agência Carta Maior


"No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado Comitê de Imprensa, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo. O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e “aterradoras” revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha.

Eu, assim como Jailton, já havia participado outras vezes do Comitê de Imprensa, sempre a convite, para tratar de assuntos os mais diversos relativos ao comportamento e à rotina da imprensa em Brasília. Vale dizer que Jailton e eu somos repórteres veteranos na cobertura de assuntos de Polícia Federal, em todo o país. Razão pela qual, inclusive, o jornalista Paulo José Cunha nos convidou a participar do programa.

Nesta carta, contudo, falo somente por mim.

Durante a gravação, aliás, em ambiente muito bem humorado e de absoluta liberdade de expressão, como cabe a um encontro entre velhos amigos jornalistas, discutimos abertamente questões relativas à Operação Satiagraha, à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais, às ações contra Protógenes Queiroz e, é claro, ao grampo telefônico – de áudio nunca revelado – envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Em particular, discordei da tese de contaminação da Satiagraha por conta da participação de agentes da Abin e citei o fato de estar sendo processado por Gilmar Mendes por ter denunciado, nas páginas da revista Carta Capital, os muitos negócios nebulosos que envolvem o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro, farto de contratos sem licitação firmados com órgãos públicos e construído com recursos do Banco do Brasil sobre um terreno comprado ao governo do Distrito Federal, à época do governador Joaquim Roriz, com 80% de desconto.

Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro. O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera.

Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros. Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido.

Sem levar em conta o ridículo da situação (o programa já havia sido veiculado seis vezes pela TV Câmara, além de visto e baixado por milhares de internautas), esse episódio revela um estado de coisas que transcende, a meu ver, a discussão pura e simples dos limites de atuação do ministro Gilmar Mendes. Diante desta submissão inexplicável do presidente da Câmara dos Deputados e, por extensão, do Poder Legislativo, às vontades do presidente do STF, cabe a todos nós, jornalistas, refletir sobre os nossos próprios limites. Na semana passada, diante de um questionamento feito por um jornalista do Acre sobre a posição contrária do ministro em relação ao MST, Mendes voltou-se furioso para o repórter e disparou: “Tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta”. Como assim? Que perguntas podem ser feitas ao ministro Gilmar Mendes? Até onde, nós, jornalistas, vamos deixar essa situação chegar sem nos pronunciarmos, em termos coletivos, sobre esse crescente cerco às liberdades individuais e de imprensa patrocinados pelo chefe do Poder Judiciário? Onde estão a Fenaj, e ABI e os sindicatos?

Apelo, portanto, que as entidades de classe dos jornalistas, em todo o país, tomem uma posição clara sobre essa situação e, como primeiro movimento, cobrem da Câmara dos Deputados e da TV Câmara uma satisfação sobre esse inusitado ato de censura que fere os direitos de expressão de jornalistas e, tão grave quanto, de acesso a informação pública, por parte dos cidadãos. As eventuais disputas editoriais, acirradas aqui e ali, entre os veículos de comunicação brasileiros não pode servir de obstáculo para a exposição pública de nossa indignação conjunta contra essa atitude execrável levada a cabo dentro do Congresso Nacional, com a aquiescência do presidente da Câmara dos Deputados e da diretoria da TV Câmara que, acredito, seja formada por jornalistas.

Sem mais, faço valer aqui minha posição de total defesa do direito de informar e ser informado sem a ingerência de forças do obscurantismo político brasileiro, apoiadas por quem deveria, por dever de ofício, nos defender.

Leandro Fortes
Jornalista

Brasília, 19 de março de 2009

Foram enviadas cópias desta carta para Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj); Maurício Azedo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Romário Schettino, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF).

quinta-feira, 19 de março de 2009

Entrevistas - Jacques Le Goff

Roma, alimento e paralisia da Idade Média


Entrevista concedida por e-mail, ditada por Le Goff à sua assessora, Mme. Christine Bonnefoy, que a transcreveu e enviou as respostas à IHU On-Line. Nascido em 1924, em Toulon, França, Le Goff tem saúde frágil, mas mantém-se intelectualmente ativo. Pertencente ao supra-sumo da elite intelectual francesa, estudou na Escola Normal Superior de Paris, centro de formação dos quadros do magistério francês, depois de ter completado os primeiros anos escolares no não menos famoso Liceu Louis-le Grand, onde também estudou Sartre.


Le Goff é considerado um dos maiores medievalistas do mundo e pertence à velha tradição francesa que une a história à greografia. Inspirado por Fernand Braudel e Maurice Lombard, tornou-se uma das figuras-chave da escola dos Annales por ter conseguido integrar à reflexão sobre o espaço e o tempo a dimensão humana. Em 1972, sucedeu Braudel na École des Hautes Études em Sciences Sociales onde permaneceu até 1977, deixando espaço para François Furet. De suas inúmeras obras, destacamos: O imaginario medieval. Lisboa: Estampa, 1994; Os intelectuais na Idade Média. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995; São Francisco de Assis. São Paulo: Record, 2001; A civilização do Ocidente medieval. EDUSC: São Paulo, 2005, traduzida para o português por José Rivair de Macedo e Dicionário temático do Ocidente medieval. Bauru/São Paulo: EDUSC/Imprensa Oficial do Estado, 2002, organizado em parceria com Jean-Claude Schmitt e trauzido por Hilário Franco. "
Fonte: UNISINOS



IHU On-Line – O senhor afirma em A civilização do Ocidente Medieval que a Idade Média nasceu das ruínas do mundo romano. Por que Roma foi “seu alimento e sua paralisia”?


Jacques Le Goff – Eu penso que Roma foi o alimento e a paralisia do mundo medieval, porque a cultura antiga junto com a Bíblia foi a base da cultura medieval, porém o constante cuidado dos homens da Idade Média em ressuscitar a Antigüidade freou bastante sua evolução para a modernidade.


IHU On-Line – A convergência do mundo romano com o bárbaro criou o mundo medieval. Que tipo de sociedade emerge dessa fusão? Que traços do mundo clássico e germânico persistiram? Quais seriam as continuidades e rupturas que podem ser verificadas na passagem da Antigüidade para a Idade Média?


Jacques Le Goff – O politeísmo cedeu ao monoteísmo. Instituições essenciais do mundo romano desapareceram, como, por exemplo, as termas, o circo e o teatro. A escravidão, sem desaparecer, foi abandonada e se desfez lentamente. A sociedade se ruralizou com um vigoroso surgimento das cidades entre os séculos X e XIII. A Idade Média tomou as artes liberais da Antigüidade, mas construiu uma nova filosofia impregnada de teologia: a escolástica. Tardia no Ocidente, a promoção da Virgem Maria favoreceu a promoção da mulher. A difusão do moinho nascido na Antigüidade permitiu um vivo crescimento econômico.


IHU On-Line – Qual foi o papel da Igreja na construção da sociedade medieval? Com base em que a Igreja construiu a noção de Diabo que sobrevive até os dias de hoje?


Jacques Le Goff – O Diabo provém do desenvolvimento do personagem apresentado no Novo Testamento como tentador de Jesus e da continuidade ou do ressurgimento das crenças populares num chefe maléfico dos demônios.


IHU On-Line – Quais seriam as principais conseqüências da crise da Cristandade, ocorrida nos séculos XIV e XV?


Jacques Le Goff – A crise da cristandade nos séculos XIV e XV se manifestou por uma diminuição da população, pelo desencadear das guerras e das violências, mas também pelo desenvolvimento do espírito crítico.


IHU On-Line – Por que razão Boécio, Cassiodoro, Isidoro de Sevilha e Beda podem ser chamados de “fundadores” da Idade Média?


Jacques Le Goff – Boécio , Isidoro , Cassiodoro de Sevilha e Beda podem ser chamados de fundadores da Idade Média porque se apoiaram na filosofia e na cultura antigas para criar uma França cristã.





Mil anos de paixões secretas. A relação prazer-pecado

Entrevista feita por Pietro Del Re, publicada no jornal La Repubblica, 15-03-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS

Professor, o que sabemos sobre o comportamento sexual daqueles séculos obscuros?

Quase nada, porque, salvo as expressões literárias ou artísticas, temos poucos documentos que nos permitam compreender o que realmente ocorreu no segredo da alcova.
Depois do casamento medieval, junto ao homem e à mulher no leito nupcial estava também Deus. O coito conjugal era legítimo ou era apenas uma concessão à procriação?

O casamento se torna sacramento só depois do quarto Concílio Lateranense, em 1215. Até então, não havia conseguido se distinguir daquilo que era a antiguidade romana: um contrato. Porém, mesmo se se casava fora da Igreja, para ser válido também aos olhos do clero e, portanto, aos olhos de Deus, o casamento deveria ser consumado.

Mas gozar é sempre pecado?

Geralmente sim. No século XII, justamente quando a Igreja inventa o Purgatório, para arrancar o homem da tradicional oposição Inferno-Paraíso, São Tomás de Aquino nega que possa haver uma parte legítima de prazer na realização do ato sexual, mesmo que no âmbito do matrimônio.

Nessa época, o pecado original era assimilado como carnal, e a imagem do inferno era muitas vezes representada como o sexo feminino. Pode-se dizer que, na Idade Média, o mal era uma mulher?

Sim, mas até certo ponto. Contrariamente ao que ocorria em Bizâncio, até o século XI o culto da Virgem Maria não era celebrado pela Igreja. A partir desse momento, se desenvolveu, pelo contrário, com força extraordinária. É também graças ao culto mariano que a mulher foi reavaliada nas sociedades medievais.

Contra a infâmia da luxúria e do adultério, estavam previstas punições corporais duríssimas. Estas tornavam o homem medieval mais "puro" do que o homem moderno?

O castigo, sem dúvida, contribuiu para manter a luxúria escondida, mesmo que os teólogos e os pregadores dissessem que Deus via tudo, inclusive o que se fazia na sombra. Porém, na margem dos manuscritos da época, frequentemente são representadas cenas de luxúria, que não hesitaria em definir como pornográficas: um bispo sodomita, uma mulher que colhe falos de uma árvores ou cenas de sexo entre homens e animais. A Idade Média admitia o mal, desde que se manifestasse à margem da sociedade, distante do seu centro sacro. Antes de querer erradicá-lo totalmente, o cristianismo sempre buscou limitar o mal por meio da confissão e do arrependimento.

As prostitutas eram toleradas pela Igreja?

Sim, a prostituição era permitida. Quanto o rei moralista Luís IX, dito São Luís, quer vetá-la, o bispo de Paris lhe disse que era "um mal necessário".

O amor cortês que sublima a mulher é sempre um amor platônico?

Sobre esse problema, os medievalistas se dividem. Eu acredito que o amor cortês é puramente imaginário. Existem apenas na literatura. O que não significa que o amor real sempre esteja em estado brutal, que sempre haja uma violenta dominação do homem sobre a mulher. Mas o amor em que a mulher se torna o senhor, e o cavalheiro, o seu servo, nunca existiu. Nem mesmo nas classes superiores da sociedade. Dito isso, a Idade Média durou do século V ao século XV, e, em mil anos, muitas coisas mudaram. A mudança essencial se produziu no século XII, quando os valores do céu descem sobre a Terra. Desde aquele momento, a felicidade não está reservada só para o lado de lá. Há o início de uma possível satisfação do prazer também para nós, mortais. Aparecem, por exemplo, os primeiro tratados de gastronomia. O trabalho, que era considerado uma punição do pecado original, se torna, pelo contrário, um valor. De resto, é nessa época que se começa a dizer que o home foi criado à imagem de Deus.

O que muda com o Renascimento?

Há a exaltação da beleza e, em particular, da nudez. A Igreja medieval rejeitava a nudez e, com ela, a maior parte da arte antiga, que, sobretudo na escultura, representava corpos nus. Com o Renascimento na Europa, sobretudo no século XV, ocorre a redescoberta dos nus. Os mesmos que antes eram representados nos afrescos das basílicas, apenas nas cenas da ressurreição dos corpos.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Pe. Alfredo J. Gonçalves

Excomungamos...

Pe. Alfredo é assessor das Pastorais Sociais
Fonte: ADITAL


Excomungamos todos aqueles que multiplicam sua renda através da especulação financeira, principais responsáveis pela crise atual, com todos os males que ela provoca, tornando mais miseráveis os pobres e mais poderosos os ricos...

Excomungamos todos os "paraísos fiscais", onde o trabalho da imensa multidão anônima se converte em ouro, em dólares e em capital para uso de poucos...

Excomungamos o sistema capitalista de produção e sua filosofia liberal que, ao longo da história, se nutre da exploração dos recursos naturais, do trabalho humano e do patrimônio cultural dos povos...

Excomungamos todos aqueles que acumulam fazenda sobre fazenda, casa sobre casa, criando imensos latifúndios improdutivos ou mansões vazias, ao lado de milhões de pessoas famintas e sem terra e sem teto...

Excomungamos os responsáveis pelos assassinatos no campo e na cidade, não somente os que empunham a arma do crime, mas com maior razão os que pagam para matar...

Excomungamos todos os políticos que, apoiados pelo voto popular, usam do poder em benefício próprio e de seus apadrinhados, traindo aqueles que o elegeram e corrompendo os canais da participação popular...

Excomungamos todo Estado que alimenta um exército de soldados e burocratas e, ao mesmo tempo, deixa cada vez mais precários os serviços públicos, substituindo-os com políticas compensatórias...

Excomungamos todos os traficantes de droga, de pessoas humanas ou de órgãos humanos, que mercantilizam a vida e causam a destruição da família e de todos os laços fraternos de solidariedade...

Excomungamos todas as milícias paramilitares e a "banda podre" das polícias porque, a cada ano, ceifam a vida de milhares de jovens e adolescentes...

Excomungamos todos os tiranos que a ferro e fogo ainda reinam sobre a face da terra, assentados em tronos de ouro, construídos com o sangue, o suor e as lágrimas de seus súditos...

Excomungamos todos os mega-projetos, agro e hidro negócios, que devastam a natureza, contaminam o ar e as águas e, no afã de acumular poder e riqueza, reduzem drasticamente a biodiversidade sobre o planeta Terra...

Excomungamos todos os pedófilos, estupradores, sequestradores e seus cúmplices que não só escandalizam os inocentes, mas os convertem em objeto de prazer e de lucro...

Excomungamos a violência do homem sobre a mulher e as crianças, não raro encoberta pela inviolabilidade do lar e da família e que, aos milhões, esconde hematomas, cicatrizes e traumas sem remédio...

Excomungamos os que fazem de seus carros uma arma que fere, mutila e mata e que seguem impunes pelas ruas com suas máquinas velozes e letais...

Excomungamos todo tipo de exploração do trabalho humano, transformando mulheres e homens em peças descartáveis de uma engrenagem que se alimenta de carne humana...

Excomungamos todo sistema prisional que, pela superlotação, pelos abusos e pela tortura, avilta a pessoa humana e faz da prisão uma verdadeira escola do crime...

Excomungamos todas injustiças e assimetrias realizadas em nome da "democracia liberal", pois a história tem sido testemunha de que essas duas expressões são incompatíveis...

terça-feira, 10 de março de 2009

Ir. Ivone Gebara

O cisma da hierarquia católica

Ivone Gebara é doutora em Filosofia pela PUC-SP, doutora em Ciências Religiosas pela Universidade Católica de Louvain - Bélgica, e lecionou durante 17 anos no Instituto Teológico do Recife, até sua dissolução decretada pelo Vaticano em 1989. Vive e escreve em Camaragibe - Pernambuco, e percorre o Brasil e diferentes partes do mundo ministrando cursos, proferindo palestras sobre Hermenêutica feminista, novas referências éticas e antropológicas e os fundamentos filosóficos do discurso religioso. É autora de vários artigos e livros, como As águas do meu poço, O que é Teologia, O que é Teologia Feminista.


Os últimos acontecimentos envolvendo a interrupção da gravidez da menina de nove anos em Pernambuco evidenciaram um fato que já estava presente desde muito tempo na vida da Igreja Católica Romana. Os bispos perderam o senso de governarem unidos aos desafios da história e à fé da comunidade e julgam-se mais fiéis ao Evangelho de Jesus do que a própria comunidade. Por manterem uma compreensão centralizadora e anacrônica de sua função e da teologia que lhe corresponde desviaram-se de muitos sofrimentos e dores concretas das pessoas, sobretudo das mulheres. Passaram a ser defensores de princípios abstratos, de incertas hipóteses futuríveis e pretenderam até ser advogados de Deus. A este acontecimento de distanciamento chamo de cisma. Os bispos tanto a nível nacional quanto internacional e aqui incluo também o Papa, como bispo de Roma, tornaram-se cismáticos em relação à comunidade de cristãos católicos, isto é, romperam com grande parte dela em várias situações. O incidente em relação a proibição da interrupção da gravidez da menina do qual Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife foi um dos protagonistas é um exemplo irrefutável. Sem dúvida há muitas pessoas e grupos que pensam como eles e que reforçam seu cisma. Faz parte do pluralismo no qual sempre vivemos.

A hierarquia da Igreja, servidora da comunidade dos fiéis não pode em certas questões separar-se do sentido comum e plural da vivência da fé. Não pode igualmente para certos assuntos de foro pessoal e mesmo grupal substituir-se à consciência, às decisões e ao dever das pessoas. Pode emitir sua opinião, mas não impô-la como verdade de fé. Pode expressar-se, mas não forçar pessoas a assumir suas posições. Nesse sentido, não pode instaurar uma guerra santa em nome de Deus para salvaguardar coisas que julga serem vontade e prerrogativa de Deus. A tradição teológica na linha mais profética e sapiencial nunca permitiu que nenhum fiel mesmo bispo falasse em nome de Deus. E isto porque o deus do qual falamos fala em nosso nome e tem a nossa imagem e semelhança. O Sagrado Mistério que atravessa tudo o que existe é inacessível aos nossos julgamentos e interpretações. O Mistério que em tudo habita não precisa de representantes dogmáticos para defender seus direitos. Nossa palavra é nada mais e nada menos do que um balbuciar de aproximações e de idéias mutáveis e frágeis, inclusive sobre o inefável mistério. É nessa perspectiva que também não se pode obrigar que a Igreja hierárquica torne, por exemplo, a legalização do aborto sua bandeira, mas simplesmente que não impeça que uma sociedade pluralista se organize conforme as necessidades de suas cidadãs e cidadãos e que estes tenham o direito de decidir sobre suas escolhas.

As comunidades cristãs assim como as pessoas são plurais. Num mundo tão diverso e complexo como o nosso não podemos admitir que apenas a opinião de um grupo de bispos, homens celibatários e com uma formação limitada ao registro religioso, seja a expressão do seguimento da tradição do Movimento de Jesus. A comunidade cristã é mais do que a igreja hierárquica. E, a comunidade cristã é na realidade múltiplas comunidades cristãs e estas são igualmente muitas pessoas cada uma com sua história, suas escolhas e decisões próprias diante da vida.

Impressiona-me o anacronismo das posturas filosóficas e éticas episcopais começando pelos bispos brasileiros e continuando nas instâncias romanas como se pode ler na entrevista que o cardeal Giovanni Batista Re, presidente da Congregação para os bispos, deu a revista italiana Stampa concordando com a postura dos bispos brasileiros. Os tempos mudaram. Urge, pois, que a teologia dos bispos saia de uma concepção hierárquica e dualista do Cristianismo e perceba que é na vulnerabilidade às múltiplas dores humanas que poderemos estar mais próximos das ações de justiça e amor. É claro que sempre poderemos errar inclusive querendo acertar. Esta é a frágil condição humana.

Creio que nossas entranhas sentem em primeiro lugar as dores imediatas, as injustiças contra corpos visíveis e é a eles que temos o primeiro dever de assistir. A consternação e a comoção em relação ao sofrimento da menina de nove anos foram grandes. E isto porque é a esta vida presente e atuante, a esta vida de menina feita mulher violada e violentada em nosso meio que devemos o respeito e o cuidado primeiros. Por isso como membro da comunidade cristã, louvo a atitude do Dr. Rivaldo Mendes de Albuquerque e da equipe do CISAM de Recife assim como da mãe da menina e de todas as organizações e pessoas que acudiram a ela neste momento de sofrimento que certamente deixará marcas indeléveis em sua vida.

Dirão alguns leitores que minha postura não é a postura oficial da Igreja Católica Romana. Entretanto, o que significa hoje a palavra oficial? O que é mesmo Igreja oficial? A instituição que se arvora como representante de seu deus e ousa condenar a vida ameaçada de uma menina? A instituição que se considera talvez a melhor seguidora do Evangelho de Jesus?

Não identifico a Igreja à hierarquia católica. A hierarquia é apenas uma parte ínfima da Igreja.

A Igreja é a comunidade de mulheres e homens espalhada pelo mundo, comunidade dos que estão atentos aos caídos nas estradas da vida, aos portadores de dores concretas, aos clamores de povos e pessoas em busca de justiça e alívio de suas dores hoje. A Igreja é a humanidade que se ajuda a suportar dores, a aliviar sofrimentos e a celebrar esperanças.

Continuar com excomunhões, inclusões ou exclusões parece cada vez mais incentivar o crescimento de relações autoritárias desrespeitosas da dignidade humana, sobretudo, quando surgem de instituições que pretendem ensinar o amor ao próximo como a lei maior. De quem Dom José Cardoso e alguns bispos se fizeram próximos nesse caso? Dos fetos inocentes, dirão eles, aqueles que precisam ser protegidos contra o "Holocausto silencioso" cometido por algumas mulheres e seus aliados. Na realidade, fizeram-se próximos do princípio que defendem e se distanciaram da menina agredida e violentada tantas vezes. Condenaram quem levantou a menina caída na estrada da vida e salvaguardaram a pureza de suas leis e a vontade de seu deus. Acreditam que a interrupção da gravidez da menina seria uma lesão ao senhorio de Deus. Mas as guerras, a crescente violência social, a destruição do meio ambiente não seriam igualmente lesões que mereceriam denúncia e condenação maior? Perdoem-me se, sem querer acabo julgando pessoas, mas diante da inconsistência de certos argumentos e da insensibilidade aos problemas vividos pela menina de nove anos uma espécie de ira solidária me assola as entranhas.

De fato um cisma histórico está se construindo e tem crescido cada vez mais em diferentes países. A distancia entre os fiéis e uma certa hierarquia católica é marcante. O incidente em relação à interrupção da gravidez da menina pernambucana é apenas um entre os tantos atos de autoritarismo e desconhecimento da complexidade da história atual que a hierarquia tem cometido.

Na medida em que os que se julgam responsáveis pela Igreja se distanciam da alma do povo, de seu sofrimento real estarão sendo os construtores de um novo cisma que acentuará ainda mais o abismo entre as instituições da religião e a simples vida cotidiana com sua complexidade, desafios, dores e pequenas alegrias. As conseqüências de um cisma são imprevisíveis. Basta aprendermos as lições da história passada.

Termino este breve texto lembrando do que está escrito no Evangelho de Jesus de diferentes maneiras. Estamos aqui para viver a misericórdia entre nós. E todos nós necessitamos dessa misericórdia, único sentimento que nos permite não ignorar a dor alheia e nos ajudarmos a carregar os pesados fardos uns dos outros.

Fonte: ADITAL

domingo, 8 de março de 2009

Entrevista - Cecília Pires

“A mulher, talvez, até nem precisasse de um dia especial”.


Transformações, fortalecimentos e lutas marcam a vida das mulheres há muitos séculos. Pelas batalhas que travou e pelas dificuldades e desigualdades que enfrenta ainda hoje, a mulher ganhou um dia, o dia 8 de março. Para a filósofa Cecília Pires, em entrevista concedida à IHU On-Line, essa é uma data que nem precisaria existir se as pessoas voltassem a si mesmos e recompusessem um processo de integração com a sua humanidade.

A partir da sua própria história como filósofa num campo onde o homem tem maior presença e destacando exemplos de mulheres que contribuem para o fortalecimento da cultura da mulher, ela nos concedeu essa entrevista para repensarmos o que é ser mulher, atualmente.

Graduada em Filosofia, Pires é especialista em Orientação Educacional e mestre em Filosofia, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Cursou doutorado em Filosofia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a tese O ISEB e a questão do nacionalismo. É pós-doutora pela Universidade Paris I, França. Professora nos cursos de graduação e pós-graduação de Filosofia da Unisinos, escreveu, entre outros, Reflexões sobre Filosofia Política (Santa Maria: Pallotti, 1986) e Ética da Necessidade e outros desafios (São Leopoldo: Editora Unisinos, 2004). Organizou Vozes silenciadas. Ensaios de Ética e Filosofia Política (Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2003).
Fonte: UNISINOS


IHU On-Line – Quem é a mulher hoje?

Cecília Pires – Essa é uma pergunta que exige algumas identificações. A mulher hoje se traduz por ser um sujeito de forte consciência de si mesmo, de sua identidade e seus direitos e perspectivas de vida, trabalho e realização. Penso que toda essa questão da comemoração do 8 de março (que tem a ver com a chacina que foi feita com as tecelãs de uma fábrica de Nova Iorque) mostrou uma evolução grande do papel da mulher no mundo, em todos os aspectos, desde a família, trabalho, lazer, vida política e religião. Penso, contudo, que em determinadas culturas a mulher ainda tem um papel secundário, submetida a vários processos de humilhação e exclusão social, e que as coisas vividas por ela ainda não são plenas. A mulher hoje é um sujeito que chegou a um lugar social histórico de reconhecimento. Ainda há, contudo, muitas coisas a serem resolvidas.

IHU On-Line – Quais são suas maiores conquistas e seus maiores desafios?

Cecília Pires – O desafio da mulher hoje é uma compreensão do equilíbrio e da paz no mundo. Não que a mulher tenha que ser um eixo desse equilíbrio e paz, e falo isso do ponto de vista da minha subjetividade. Acredito que o mundo hoje precisa de muita paz, serenidade e equilíbrio, e o sujeito masculino da espécie é muito agressivo, belicoso, sai muito à caça, à dominação, talvez fazendo sofisticadamente no momento contemporâneo aquilo que já se fazia antes. A mulher cuidava da prole e o homem saia à caça. Esses papéis não se inverteram necessariamente. Eles se reproduziram de forma diferente.

Mas o desafio do equilíbrio no mundo hoje para a mulher é a questão maior, sobretudo quando vemos mulheres em lugares de destaque na política nacional e internacional. A questão da serenidade e da delicadeza, que fazem parte do universo feminino, sem qualquer tipo de discriminação à figura do masculino, que também pode ser delicado e equilibrado, é o grande desafio: junto com os companheiros homens, pensar a paz no mundo. As guerras, agressões e conflitos já se deram de todas as formas.

Lucidez e cumplicidade

É triste vermos nas manchetes dos jornais dois casos cruéis no Brasil, um no Nordeste, outro aqui no Sul, de meninas grávidas, violadas por padrastos e, quem sabe, com a cumplicidade da própria mãe. Ainda assim, um ou outro líder da igreja local condena o aborto feito em cumprimento da lei, pois havia risco de vida para a menina e a gravidez era oriunda de estupro. Com isso, não estou defendendo o aborto, até porque sou contra ele. Mas esses são casos de absoluta exceção. É muito triste que em pleno século XXI esses fatos acontecem em nosso país. Então, nos perguntamos sobre a lucidez ou cumplicidade que as mulheres envolvidas nesses processos tiveram sobre essas crianças vítimas da violência masculina, e ainda pior, vinda pessoas de dentro de casa.

Sobre as conquistas das mulheres, se pensarmos em relação ao modo de produção capitalista que seguimos, todos tem que ter trabalho. Então menciono as conquistas no mundo do trabalho, e os direitos inclusive em consequência relacionados a esse mundo do trabalho. Nesse aspecto, há que se destacar o próprio reconhecimento profissional. Em décadas passadas, sobretudo até 1980, havia muita diferença entre salários femininos e masculinos. Havia empresas, como nossa Petrobras, que buscava poucas engenheiras, e mais engenheiros. Penso que essa questão discricionária está sendo superada em algumas situações. Infelizmente, ainda há muitas situações a serem resolvidas. Vamos pensar sobre a Lei Maria da Penha, criada exatamente como um protesto jurídico político sobre a violação de uma mulher. Seria muito melhor que não precisássemos dessa lei, já que a justiça não deveria ter um sexo, e deveria trabalhar com equilíbrio. Mas não é isso que acontece. Há, portanto, muitas lacunas, ainda, e pouco entendimento. Outro exemplo é que, às vezes, alguns setores da sociedade são muito discricionários com a questão da mulher e trata a questão das pessoas que lutam pela emancipação feminina com deboche. Esse respeito ainda precisa ser conquistado. Talvez a mulher até nem precisasse de um dia especial. A questão seria os humanos se voltarem a si mesmos e se recomporem num processo de integração de sua própria humanidade. Como isso não acontece, fazemos várias situações de identificação específica, como o dia do idoso, da criança, da mulher. Na verdade, a sociedade precisaria evoluir mais em relação a isso. Esse é o maior desafio.

IHU On-Line – Como percebe o poder e o pensamento feminino no mundo contemporâneo?

Cecília Pires – Esse poder e pensamento estão bastantes presentes no mundo de hoje. Há situações hoje, em que lideranças femininas cresceram de uma forma mais sólida, mas vinculada a representações como as mulheres do movimento negro, do Movimento Sem Terra, nas lutas sindicais, nas representações parlamentares, nas situações de governabilidade e representando vários segmentos sociais. Vejo que sempre parece uma espécie de destaque e esse destaque me parece pejorativo em relação à forma como a mulher se trata e se apresenta. Por exemplo, a mídia, em suas manchetes, fez várias observações um pouco irônicas, mordazes, sobre as cirurgias que a ministra Dilma Roussef [1] teria feito. Isso é absolutamente secundário na vida política do país. Se fôssemos pensar em inúmeros deputados, senadores e presidentes da República, inclusive, que fizeram essas cirurgias faciais, perceberemos que as manchetes dos jornais não tiveram o mesmo encaminhamento, fazendo esse tipo de declaração mordaz.

IHU On-Line – E por que a senhora acha que a mídia faz isso?

Cecília Pires – A mídia é muito estimulada por um espírito mesquinho, de um certo primitivismo de pensamento, pragmático, pobre. Ao invés de mostrar o que as pessoas como sujeitos sociais e políticos estão fazendo, ou não fazendo, tecendo críticas a partir de situações consolidadas, efetivadas, comprovadas, falam de detalhes sobre o corte de cabelo, o botox do rosto, o tipo de saia. A mídia quer alimentar um certo tipo de público que gosta disso.

IHU On-Line – De certa forma a mulher, que tem um papel de formadora de opinião, contribui para isso?

Cecília Pires – Não penso que isso poderia ser colocado na generalidade. Penso que há algumas mulheres filósofas, sociólogas, escritoras, religiosas, líderes populares que contribuem muito para a formação de opinião. Mas é numa outra área, num outro viés da questão, não é simplesmente na questão estético-cultural. Não que essa não seja uma questão importante, a beleza é uma condição que construímos e gostamos, mas essa coisa de padrões de beleza, de estrutura corporal, de formas de se vestir e de se portar valendo como um modelo, fica parecendo um rito de estátua. Penso que a vida de uma mulher pública é muito invadida, devassada, e que às vezes é muito ruidoso tudo isso, e em nada contribui para o convívio social. Ainda que do ponto de vista do universo masculino isso também possa acontecer, não é de uma forma tão mordaz e caricata quanto é feito em relação à mulher.

São coisas de uma tibieza de espírito, de pessoas que não conseguiram ver as coisas em uma totalidade de significados, com maior envolvimento para a humanidade e consigo mesmos. Isso é algo que deixa a desejar, no meu ponto de vista. A feminilidade e a masculinidade são características dos seres vivos da espécie e que tinham que ser respeitadas nessas condições, tais como se apresentam. Penso que tudo isso não contribui para a paz, e sim para a violência, para a competição. Claro que talvez haja muitas mulheres que até estimulam esse tipo de comportamento, podem até gostar de estar na mídia dessa forma, mas acho que não são todas as mulheres públicas que se enquadram nesse quesito.

IHU On-Line – Quais são os maiores preconceitos que persistem em torno das mulheres?

Cecília Pires – Um dos preconceitos que persistem é, de um modo geral, acerca da inteligência da mulher e da sua emocionalidade. Por mais que as mulheres se esforcem e lutem, escrevam, pesquisem, investiguem, isso é colocado com certo destaque, com uma espécie de espanto, e não como uma compreensão normal de que é própria do ser humano a inteligência. E a questão da sensibilidade também persiste. Permanece aquela estrutura cartesiana de uma divisão entre razão e sensibilidade, em que o homem é todo razão e a mulher é toda sensibilidade. Isso não é verdadeiro. O homem também sofre, sente, chora. Essas não são prerrogativas femininas. Mesmo assim, há situações, leituras, interpretações que vivenciam esse tipo de preconceito: que a mulher chora, faz charme, faz uso de sedução para conquistar as coisas, cativar os homens. Isso, colocado de uma forma pejorativa, pouco nobre. O ser humano em geral é sensível, sedutor, inteligente, bem como bruto, terrível, agônico, violento. Não existe uma dimensão de coisa perfeita que seja de coisa de homem, ou coisa de mulher. O problema é a forma como é colocado esse tipo de coisa.

Há preconceito até contra a mulher que dirige. A violência do trânsito está evidente. E há homens que, quando veem uma mulher ao volante, buzinam, tomam atitudes pouco educadas, para dizer o mínimo. Se formos fazer uma coletânea dos ditos, anedotas, isso fica patente. É algo imenso do ponto de vista do preconceito. Infelizmente há coisas que não avançaram em várias situações. Há lugares que parece que são dados apenas ao mundo masculino. A humanidade ainda terá que caminhar e avançar muito nesse sentido, inclusive no Ocidente. Entra aí a questão dos mitos, de que atrás de todo grande homem há uma grande mulher, de que a mulher foi tirada da costela de Adão. Isso virou brincadeira, sarcasmo, e sempre se coloca a mulher em papel secundário. Acho isso desnecessário, porque homens e mulheres se completam, se amam e interagem exatamente porque são diferentes. A mulher não busca uma identidade física e emocional masculina, e nem o homem busca uma identidade física e emocional feminina. Os seres humanos buscam a felicidade, sonhos conjuntos, e nesse sentido buscam um convívio, uma partilha. Aliás, a partilha é outro desafio, dos olhares, das compreensões a partir de caminhos que se afastam e se encontram.

IHU On-Line – A filosofia é machista? Por que tão poucas mulheres são reconhecidas e respeitadas por seu pensamento, enquanto filósofas?

Cecília Pires – Essa é uma pergunta recorrente. Costumo dizer que na história da filosofia são poucas as mulheres que se apresentam e são reconhecidas como pensadoras. Se recorrermos à história da filosofia antiga, isso é quase nulo. Menciona-se a mulher de Sócrates, apenas. O que percebo é que o mundo do pensamento ficou muito associado ao mundo masculino, ao mundo do poder. Vimos toda a história da humanidade como se processou, a história da dominação masculina sobre o mundo feminino e é claro que isso se refletiu na história da igreja e da humanidade. O século XX, nesse sentido, recompôs essa situação, e as mulheres tiveram mais condições de trabalho, estudo e investigação e aí, nas universidades, abriram-se lugares para as mulheres. Contemporaneamente, não se pode dizer que existe propriamente uma discriminação das mulheres na filosofia. As mulheres estão presentes na filosofia como professoras, escritoras, investigadoras. A Unisinos é um exemplo disso. No nosso colegiado do PPG, somos em três mulheres [2]. O número de homens é maior, mas isso é uma contingência.

Em outras universidades que trabalhei onde eu era a única mulher professora de filosofia e quando me aposentei, foram feitos vários concursos e até hoje não tenho notícia de que entrou uma mulher sequer nesse local. Então, fico me perguntando se realmente não houve inscrições de candidatas mulheres. É impossível que não tenha havido, com tantas mestres e doutoras formadas nesse tempo todo. Mas fica a interrogação: por que a predominância do elemento masculino? Penso que esses espaços, contudo, estão se abrindo mais, embora também aí haja preconceito. Já tive professores enquanto eu fazia minha formação, que perguntavam “como você vai ser uma pesquisadora tendo quatro filhos?”, como se meu processo de gestação de filhos pudesse impedir meu processo de geração de conhecimento. Sempre vivi e enfrentei muito esse tipo de comentário.

Mulheres filósofas

São poucas as mulheres filósofas que o público conhece: Hannah Arendt [3], Edith Stein [4], Simone Weil [5], por conta inclusive pela forma com que algumas conseguiram chegar ao mundo público e ter suas obras recebidas, acolhidas e debatidas. Penso que daqui para frente as coisas podem ser mais profícuas, mais efervescentes. Sem dúvida, passaram-se muitos séculos de silenciamento da mulher, de renúncias. Sabemos de casos de outras universidades no Brasil onde essa questão do masculino e do feminino no mundo do pensamento ainda é conflitiva. Ouvimos falar dos embates públicos entre mulheres filósofas e homens filósofos. Eu não saberia, entretanto, dizer se isso ocorre por conta do machismo, do preconceito ideológico, das reticências culturais, da má formação compreensiva acerca do que é o humano. Talvez todas essas razões juntas poderiam identificar esse problemas.

IHU On-Line – Autores como Kant e Nietzsche demonstraram misoginia em partes de sua obra. Qual é o fundamento dessa postura, partindo de pensadores que ocupam posições tão elevadas no pensamento contemporâneo?

Cecília Pires – Penso que a misoginia desses autores é algo que não se explica pela racionalidade e pelo brilhantismo filosófico de seus pensamentos. Acredito, isso sim, que há muito um componente cultural que poderia estar atrelado talvez até a problemas pessoais desses filósofos, e tantos outros. Rousseau [6] também tem vários preconceitos relacionados à mulher, por exemplo. Tenho uma amiga que é estudiosa da questão feminina, a professora Maria da Penha Carvalho [7], da Universidade Gama Filho. Ela faz vários estudos e textos filosóficos sobre a forma como a mulher é tratada. É algo impressionante. Embora haja filósofos como Stuart Mill [8], por exemplo, que tem um excelente reconhecimento sobre o pensamento e compreensão da mulher, de sua vida como profissional. Mas essa questão pode ser atribuída a preconceito, talvez porque também nessa condição cultural e preconceituosa foi atribuído à mulher o papel de cuidar da prole e fazer todo o zelo doméstico. Com isso, ela não teria tempo para reflexão, amadurecimento, porque se envolve com outras coisas. Felizmente, participo de uma geração em que os companheiros não foram ausentes no cuidado com os filhos e o cuidado com a família com a mesma responsabilidade feminina. Mas sei se várias colegas que não conseguiram construir sua carreira de investigação e pesquisa por conta de não ter o apoio do seu companheiro.

Voltando à misoginia de Kant e Nietzsche, mesmo sem ter formação psicanalítica, penso que ela está muito ligada às suas personalidades. Nietzsche teve problemas com sua mãe, e sua irmã o oprimia. Kant viveu a vida toda sozinho, não porque não se casou, mas parece que suas relações de afeto não se consolidavam. Assim, penso que se as pessoas são mal amadas, mal resolvidas, para usar uma expressão bem popular e conhecida, elas se tornam feias por dentro, e por isso produzem uma cólera acerca do mundo, e uma ira acerca da outra parte da humanidade que não é ele mesmo.

IHU On-Line – Atualmente, no Brasil e no exterior, que expoentes femininas se destacam no campo filosófico?

Cecília Pires – No Brasil, eu destacaria Marilena Chauí [9]. Penso que ela é uma excelente pesquisadora, uma pessoa séria, comprometida politicamente e que, na realidade, talvez tenha vivido preconceito e situações machistas dentro da própria USP. Fazer filosofia é criar, não é ser repetitivo. Fazer filosofia simplesmente repetindo o que os filósofos já disseram sem um processo de acréscimo, de construção e compreensão do novo a partir das categorias já estudadas também é problemático. É evidente que não se está reconstruindo a roda e reinventando a ciência. Não podemos desconhecer o que já foi feito antes de nós, mas não podemos ser apenas repetidores das coisas já ditas e já lidas. Um dos sintomas grandes da nossa inteligência é a capacidade de criar, a partir inclusive desse caminho compartilhado que é o da ciência, da filosofia. E nesse aspecto Chauí se destaca.

Penso que hoje há várias mulheres que discutem a questão feminina, como na Espanha, México, na América Latina como um todo. No ano passado, saiu um livro, organizado por um professor cubano que vive na Alemanha, Raul Betancourt [10], que fez um estudo sobre o pensamento e o trabalho feminino na América Latina. Ele destaca várias pessoas nesse sentido. Eu comentava com o próprio autor dessa obra o quanto era singular o fato de um homem tomar essa iniciativa. Ele coloca a mim e a professora Magali de Menezes [11], da Feevale, como pessoas que tem um trabalho filosófico na América Latina, o que me honra muito.

IHU On-Line – Mulheres como Dorothy Stang [12]e Simone de Beauvoir contribuíram, cada uma do seu modo, para quebrar estereótipos e lutaram por suas causas. Como seu legado nos ajuda a compreender melhor o papel das mulheres na sociedade?

Cecília Pires – Dorothy e Simone tiveram um papel exponencial na afirmação dum feminino como projeto efetivo de liberdade. Quando Simone diz que não se nasce mulher, mas torna-se mulher, ela vai mostrar isso com a afirmação cultural do feminino. Penso que as coisas que se apresentam nesses casos são o grande enfrentamento e autonomia que elas tiveram diante de preconceitos. Várias idéias de Simone fez são atribuídas a Sartre, o que de certa forma é uma injustiça, pois se aprofundarmos e investigarmos sua vida, como venho fazendo, pois sou pesquisadora de Sartre [13], muitos insights do que ele escrevia vinham de ideias e discussões que tinha com sua companheira. O originário era muito mais dela, do que dele. Ele era a pessoa que, de certa forma, publicizava mais, pois escrevia mais, ocupava o lugar social da produção e da editoração dos seus textos.

Já a irmã Dorothy teve todo um compromisso efetivo com a questão social, dos oprimidos e vitimados. Há várias mulheres que também foram líderes, desde Madre Teresa de Calcutá [14] até líderes indígenas da América Latina. Essas pessoas mostram que, quando tomada por uma idéia, a mulher tem uma coerência quase que absoluta. Ela vai em frente, e muitas vezes viram vítimas. Esse é um legado que mostra para as gerações novas que as coisas são possíveis de serem feitas. Quando falo de que o grande desafio hoje é da paz, penso que devemos desejar a paz. Falamos muito em ética, e a grande revolução que a humanidade precisa é uma revolução ética, que deve ter como pilares a justiça e a paz. Talvez a mulher tenha um grande papel aí, superando as desigualdades, necessidades, para que possamos viver, efetivamente, num mundo de liberdade. Por que enquanto estivermos envolvidos com a necessidade, não atingimos a plenitude e a liberdade. Isso se apresenta na história dos povos de modo mais, ou menos intenso.

Notas:

[1] Dilma Vana Rousseff Linhares é economista. Foi a primeira mulher a ser nomeada ministra-chefe da Casa Civil. Foi secretária de Minas e Energia durante o governo Alceu Collares no Rio Grande do Sul e retornou ao cargo durante o governo Olívio Dutra. Hoje, Dilma também é gerente do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), plano que visa ao crescimento econômico do Brasil.

[2] O curso de filosofia da Unisinos conta hoje com as professora Cecília Pires, Anna Carolina Regner e Sofia Albornoz Stein.

[3] Hannah Arendt foi uma teórica política alemã, muitas vezes descrita como filósofa, apesar de ter recusado essa designação. Emigrou para os Estados Unidos durante a ascensão do nazismo na Alemanha e tem como sua magnum opus o livro "Origens do Totalitarismo".

[4] Edith Theresa Hedwing Stein foi uma religiosa alemã, a última de onze irmãos de uma família judia que professava o Judaísmo. Faleceu aos 51 anos asfixiada numa câmara de gás, em 1942, no campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. Foi professora de Filosofia, sendo discípula de Edmund Husserl e secretária particular desse filósofo.

[5] Simone Adolphine Weil foi uma escritora, mística e filósofa francesa, tornou-se operária da Renault para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas, lutou na Guerra Civil Espanhola ao lado dos republicanos e morreu em greve de fome, protestando contra as condições em que eram mantidos os prisioneiros de guerra na França ocupada.

[6] Jean-Jacques Rousseau foi um filósofo suíço, escritor e teórico político. Uma das figuras marcantes do Iluminismo francês, Rousseau é também um precursor do romantismo. Ao defender que todos os homens nascem livres, e a liberdade faz parte da natureza do homem, Rousseau inspirou todos os movimentos que buscaram uma busca pela liberdade. Inclui-se aí as Revoluções Liberais, o Marxismo e o Anarquismo.

[7] Maria da Penha Maia Fernandes é uma biofarmacêutica brasileira que lutou para que seu agressor viesse a ser condenado. Com 60 anos e três filhas, hoje ela é líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres, vítima emblemática da violência doméstica.

[8] John Stuart Mill foi um filósofo e economista inglês, e um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy Bentham.

[9] Marilena de Sousa Chaui é uma historiadora de filosofia. Professora de Filosofia Política e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

[10] O filósofo e teólogo cubano Raúl Fornet-Betancourt é figura de ponta da filosofia da libertação latinoamericana, professor na Universidade de Bremen e professor honorário de filosofia na Universidade de Aachen, diretor do Departamento Latino-americano do Istituto de Missionologia de Aachen, Alemanha.

[11] Magali de Menezes é uma filósofa brasileira.

[12] Dorothy Mae Stang foi uma religiosa estadunidense naturalizada brasileira. Pertencia às Irmãs de Nossa Senhora de Namur, congregação religiosa fundada em 1804 por Santa Julie Billiart e Françoise Blin de Bourdon. Dorothy estava presente na Amazônia desde a década de setenta junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu. Sua atividade pastoral e missionária buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, junto aos trabalhadores rurais da área da rodovia Transamazônica. Seu trabalho focava-se também na minimização dos conflitos fundiários na região. Foi assassinada, com seis tiros, um na cabeça e cinco ao redor do corpo, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005 em uma estrada de terra de difícil acesso, à 53 quilômetros da sede do município de Anapu, no Pará.

[13] Jean-Paul Charles Aymard Sartre foi um filósofo francês, escritor e crítico, conhecido representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra.

[14] Madre Teresa de Calcutá foi uma missionária católica albanesa, nascida na República da Macedônia e naturalizada indiana beatificada pela Igreja Católica. Considerada a missionária do século XX, concretizou o projeto de apoiar e recuperar os desprotegidos na Índia. Através da sua congregação "Missionárias da Caridade", partiu em direção à conquista de um mundo que acabou rendido ao seu apelo de ajudar o mais pobre dos pobres.

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