domingo, 17 de julho de 2011

Estado espanhol: o movimento dos ''indignad@s'' e suas perspectivas

Além das particularidades de cada país, aquilo que passa tanto no Estado espanhol como na Grécia, depois da irrupção das revoltas no mundo árabe, terá repercussões em todo o continente. Daqui resulta a importância de analisar em profundidade a realidade e o potencial destas grandes mobilizações. Esther Vivas e Josep Maria Antentas nos dão aqui sua opinião sobre o significado do movimento dos “indignad@s”.  A entrevista é de Jean-Philippe Divès para o periódico Tout est à Nous e nos foi enviada por Esther Vivas. A tradução é de Benno DIschinger.
Fonte: UNISINOS




Como definiria as características centrais deste movimento?

Josep Maria: O movimento começou absolutamente por surpresa. As manifestações de 15 de maio (15M) foram muito maiores do que o esperado e a arrancada dos acampamentos foi espontânea. Desde o começo da crise a reação social havia sido muito débil. Finalmente tudo estalou de forma inesperada, “intempestiva”, como diria Daniel Bensaïd. E, como quase sempre que começa um grande movimento social, este se fez com a juventude como protagonista em sua fase inicial, e com formas de protesto inovadoras e disruptivas. Expressa no mínimo a radicalização social mais importante desde faz mais de dez anos, quando emergiu o movimento antiglobalização, embora atualmente, em plena crise, a profundidade social e territorial do movimento seja maior.

Esther Vivas: O movimento de 15 de maio tem um duplo eixo de crítica. Por um lado, a classe política e, pelo outro, os poderes econômicos e financeiros, como bem resume o lema “Não somos mercadorias em mãos de políticos e banqueiros”. As revoltas no mundo árabe tem sido um referencial e assim o põem de manifesto as ocupações de praças e os acampamentos, tomando como exemplo, entre outros, a Plaza Tahrir. Estas têm sido um palanque para impulsionar futuras mobilizações e um alto-falante para amplificar as atuais. Atuaram como referencial simbólico e como base de operações e não têm sido um fim em si mesmas. A internet e as redes sociais, Twitter e Facebook, desempenharam um papel-chave como espaço de discussão, de politização e de formação de uma identidade e um acervo compartilhado, além de serem um instrumento a serviço da mobilização social.

Do exterior se tem a impressão de que a ruptura com o movimento operário organizado, sindicatos e partidos, é ainda mais importante do que na Grécia... O que se passou com os sindicatos depois da longa greve geral de 29 de setembro do ano passado?

Esther Vivas: Depois da greve geral de 29 de setembro os sindicatos majoritários voltaram à sua prática habitual de desmobilização. A greve geral foi um parêntesis no tempo e não significou uma mudança de orientação. Em janeiro, CCOO e UGT e o Governo firmaram o acordo sobre a reforma das pensões, que aumentava os anos de cotização para cobrar a pensão. Isto encerrou brutalmente qualquer expectativa de mobilização social. Os sindicatos majoritários ficaram desconcertados por um movimento que não previam e que os interpela. Agora está por ser vista sua reação e se o movimento será suficientemente forte para forçar algum tipo de virada de sua parte. Em muitos acampamentos, como o de Barcelona, saiu claramente a petição de uma greve geral e também a vontade de “levar a indignação aos centros de trabalho”, onde ainda há muito medo e resignação.

Josep Maria: O movimento expressa uma recusa frontal às políticas do governo Zapatero. Esquerda Unida manifestou suas simpatias pelos protestos, mas em geral tem sido muito exterior aos mesmos, sem um vínculo militante real. A esquerda extra-parlamentar e alguns sindicatos alternativos estiveram, sim, presentes no movimento, junto com uma multidão de pessoas não organizadas ou em coletivos sociais. Os setores em luta, como os trabalhadores da saúde na Catalunha, mobilizados contra os cortes, tiveram também um papel ativo e visível.

Com o desenvolvimento da mobilização, há um avanço nas reivindicações e no nível de consciência?

Esther Vivas: A jornada de mobilizações de 19 de junho (19J) mostrou como o movimento se deslocava da esquerda e se aprofundava em suas reivindicações. Alguns dos slogans mais correntes em muitas das manifestações foram as críticas dirigidas ao Pacto do Euro, contra os cortes sociais, contra os bancos e também a demanda de uma greve geral. Observa-se um ambiente de radicalização, embora de maneira imprecisa e difusa, em clamores como “a revolução começa aqui”, contada em muitos acampamentos. Outro movimento-chave de radicalização política foi a jornada de 15 de junho, quando em Barcelona se tentou bloquear o Parlamento da Catalunha, durante o debate parlamentar dos pressupostos do Governo catalão e onde se propunham os cortes sociais mais importantes desde a democracia.

Josep Maria: O movimento, desde seu começo, tem passado por várias provas que lhe permitiram amadurecer e aprofundar-se em seu discurso, como por exemplo, a vitória ante o intento de desalojamento em Barcelona no passado dia 27 de maio, ou a criminalização sofrida após o bloqueio ao Parlamento da Catalunha aos 15 de junho. A denúncia e a utilização do déficit como uma excusa para cortar direitos está presente na política do movimento. No caso da Catalunha, por exemplo, o rechaço aos pressupostos do Governo catalão, que incluem fortes cortes na saúde e educação, tem sido um dos aspectos-chave do movimento.

Na opinião de vocês, o que vai permanecer deste movimento? Há possibilidades que subsistam formas de estruturação mais permanentes?

Esther Vivas: A partir dos primeiros acampamentos e ocupações de praças em grandes cidades, o exemplo se estendeu a cidades médias e pequenas, bem como aos bairros das grandes urbes. Também se estabeleceram coordenações de assembléias de povoados e bairros. E elas constituem, de fato, alguns dos principais êxitos do movimento. Esperamos um outono quente com novas mobilizações, como a jornada do 15 de outubro, e com lutas concretas frente aos cortes sociais.

Josep Maria: Não estamos ante um movimento conjuntural, senão ante a ponta do iceberg de uma previsível nova onda de mobilizações. O 15M e os acampamentos têm sido a primeira sacudida e atuaram como lançadeira. Nestas semanas, o movimento se ampliou, diversificando-se social e geracionalmente, e se arraigou territorialmente. O êxito da jornada de manifestações do 19J mostrou-o claramente. Em menos de um mês o crescimento quantitativo e qualitativo tem sido muito grande.

Qual é o impacto sobre o panorama político no Estado espanhol? Significa ou pode provocar importantes mudanças?

Josep Maria: O movimento surgido com o 15M teve um forte impacto na opinião pública e desfrutou de uma grande centralidade midiática. Ninguém esperava o enorme êxito do 15M e menos ainda o que viria depois. Tem sido umas semanas que mudaram a paisagem político-social do conjunto do Estado espanhol. Elas são uma mostra do rechaço das políticas aplicadas pelo Governo Zapatero e também um sinal muito claro para a direita, que aspira a ganhar as próximas eleições gerais, de que vai encontrar-se com um panorama de agitação social quando chegar ao poder.

Esther Vivas: Estas mobilizações significam, sem dúvida, um ponto de inflexão e o início de uma nova etapa. Muitas pessoas têm dito que “nada será como antes”, e assim é. O movimento conseguiu pôr fim à passividade resignada e ao desânimo que até agora imperava. O presente nos abriu uma brecha de esperança no futuro.

[grifos do blog]

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