quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Breno Altman


O mito do muro
Onde está a autoridade dos EUA para falar do Muro de Berlim? No muro da morte que separa seu território dos aliados mexicanos, matando por ano os 80 caídos durante três décadas na Berlim dividida? Na base de Guantánamo, onde centenas de muçulmanos estão presos sem o devido processo legal e são sistematicamente torturados? Ou teria a Europa ocidental mais credibilidade, com sua política discriminatória contra os imigrantes? Ou ainda Israel, com o muro que construiu para separar os palestinos? O artigo é de Breno Altman, jornalista e diretor de redação do Opera Mundi.
Fonte: Carta Maior


O noticiário internacional esteve marcado, nos últimos dias, pelas festividades comemorativas dos 20 anos da queda do Muro de Berlim. A maioria da imprensa celebrou o evento com galhardia. Trata-se, afinal, do símbolo mais emblemático da derrocada do socialismo e da possibilidade histórica de qualquer sistema distinto do capitalismo triunfante.

A conjugação de uma incrível máquina de propaganda com o complexo de vira-lata comum aos perdedores foi capaz de atrair para essa comemoração amplos setores progressistas e de esquerda, que simplesmente mandaram às favas qualquer espírito crítico. Alguns porque honestamente concordam com a retórica sobre o muro maligno. Outros porque temem ser apontados como antidemocráticos e fora de moda.

A submissão intelectual chega ao ponto de não se questionar sequer a legitimidade dos grandes agitadores contra a obra do mal. Onde está a autoridade dos Estados Unidos e seus meios de comunicação? No muro da morte que separa seu território dos aliados mexicanos, matando por ano os 80 caídos durante três décadas na Berlim dividida? Na base de Guantánamo, onde centenas de muçulmanos estão presos sem o devido processo legal e são sistematicamente torturados? Ou teria a Europa ocidental mais credibilidade, com sua política discriminatória contra os imigrantes? Ou ainda Israel e os grupos sionistas, pródigos em adotar práticas de “pogrom” contra os palestinos?

A lista de participantes desse festim é bastante longa, vários com muitas contas a acertar, e de cada qual deveria ser solicitado o devido atestado de idoneidade. Não é o caso, obviamente, de se justificar um pecado com outro, mas evitar comportamentos desprovidos de análise histórica. Olhar ao lado de quem se está marchando já é um bom começo de reflexão.

O Muro de Berlim costuma ser apresentado, pelos campeões da liberdade, como produto de um sistema político tirânico, cuja natureza seria a divisão dos povos e sua subordinação ao tacape de uma ideologia totalitária. Os fatos que lhe deram origem há muito foram subtraídos da informação cotidiana.

Quando terminou a 2ª Guerra Mundial, a Alemanha foi dividida em quatro zonas de influência, entre norte-americanos, ingleses, franceses e soviéticos. A capital histórica, Berlim, pertencente ao território controlado pelo Exército Vermelho, acabou igualmente repartida em áreas controladas pelos países vitoriosos.

Reconstrução européia

Quem se der ao trabalho de ler as atas das conferências de Ialta, Potsdam e Teerã, se dará conta que Moscou era contrário a essa divisão. Sua proposta era dotar a Alemanha de um governo provisório, sem divisão do território, que organizasse em dois anos um processo eleitoral nacional. Os demais aliados, temerosos que o país caísse nas mãos dos comunistas, exigiram o modelo adotado.

A União Soviética acatou, depois que viu garantido seu direito de hegemonia sobre os demais países fronteiriços, além de preservado seu controle militar sobre a antiga Prússia Oriental. Em nome de sua política de segurança e da manutenção da aliança que derrotou o nazismo, abdicou de parte da sua influência na porção ocidental da Alemanha e do antigo Império Austro-Húngaro, apesar de os comunistas já serem maioria na Áustria.

Outro compromisso que constava da agenda pós-guerra era a constituição de um fundo mundial para a reconstrução europeia. O papel principal, nesse trâmite, cabia aos Estados Unidos, a potência que menos havia sofrido com o esforço de combate, cuja economia havia sido vitaminada pelo conflito e dispun ha de imensos recursos financeiros.

Mas a vitória eleitoral dos comunistas na então Tchecoslováquia, seguida de resultados espetaculares na Itália e França, em 1946, provocou uma reviravolta. A Casa Branca decidiu-se por quebrar o pacto da reconstrução e inundar de financiamento apenas sua área de influência, dando origem ao Plano Marshall em 1947. Cerca de 140 bilhões de dólares, em valores atualizados, foram injetados no ocidente europeu.

Tinha início a chamada Guerra Fria, antecipada, em março de 1946, pelo famoso discurso de Winston Churchill em Fulton. A União Soviética, que havia arcado com um incalculável custo humano e material ao ser o grande vetor da vitória contra Hitler, passou a enfrentar uma outra guerra, financeira e de sabotagem, contra suas posições. Especialmente na Alemanha Oriental, constituída em 1949 como República Democrática da Alemanha.

A estratégia norte-americana era roubar os melhores profissionais alemães, atraí-los a peso de ouro a partir de sua cabeça-de-ponte em Berlim Ocidental, que recebia aportes formidáveis para ser exibida como vitrine esplendorosa da pujança capitalista. A fuga de cérebros e braços asfixiava a jovem RDA, que pouco podia contar com a ajuda material soviética, pois estava o Kremlin às voltas com o dificílimo reerguimento do próprio país.

Foram mais de 12 anos em uma batalha árdua e desigual. A URSS tinha quebrado a máquina de guerra do nazismo, retesando cada músculo e cada nervo da nação, e se via diante de uma situação que poderia levar à desestabilização de suas fronteiras, exatamente a aposta maior da Casa Branca.

Essa escalada teve seu desfecho no dia 13 de agosto de 1961, data inaugural do Muro de Berlim.

Economia ferida

O fluxo entre os dois países e as duas áreas da antiga capital foi militarmente interrompido e obstaculizado por uma construção que chegou a ter 66,5 km de redeamento metálico e murado. Famílias e amigos foram separados por quase 30 anos. Aprofundou-se a fratura entre ocidente e oriente na Europa. Uma nação histórica foi dividida. Oitenta pessoas morreram e 142 ficaram feridas ao tentar ultrapassar o muro, finalmente derrubado em 1989.

Sua construção foi um ato de guerra, mas de caráter defensivo. As hostilidades e operações de sabotagem, que impediram a permanência de uma Alemanha unida e a coexistência pacífica de dois sistemas, foram iniciadas pelas potências que romperam o acordo de paz, impondo ao leste europeu e socialista, com sua economia ferida pela guerra, um longo estado de exceção.

Claro, havia outras alternativas. A URSS e seus aliados poderiam, por exemplo, ter capitulado de antemão à ideia de desenvolver outro sistema de produção e poder, pois era essa tentativa dissidente o motivo da Guerra Fria. Afinal, não foi assim que tudo terminou, lá se vão 20 anos?

Mas com seus erros e seus acertos, suas glórias e seus desastres, seus feitos e até seus crimes, o socialismo foi, durante gerações, a bandeira e o sonho de povos que aceitaram pagar com sacrifício, dor e sangue por um outro mundo possível. Teria sido impensável, se assim não fosse, a extraordinária vitória na guerra de trinta anos que vai da Revolução Russa à caída de Berlim nas mãos do Exército Vermelho, em 1945.

O muro de Berlim talvez tenha sido apenas a criatura disforme de um processo no qual seus protagonistas tiveram que enfrentar circunstâncias e teatros de batalha escolhidos, no fundamental, por inimigos poderosos. De certo modo foi, durante décadas, marco de resistência e de equilíbrio entre dois sistemas. Caiu quando a força propulsora de um dos lados já tinha se esgotado. O resto é a mitologia dos vencedores.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A velha mídia e sua batalha inglória


A velha mídia e sua batalha inglória


A Folha de São Paulo publicou editorial neste domingo criticando "práticas desleais na internet" que estariam "colocando em risco as bases que permitem o exercício do jornalismo no país". A Folha, no caso, se apresenta como porta-voz deste jornalismo independente. Para o jornalista Luis Nassif, o editorial aponta o objetivo final do processo que explica o comportamento da mídia a partir de 2005: "a politização descabida, as tentativas sucessivas de golpes políticos, os assassinatos de reputação de políticos, juízes, jornalistas". A notícia é da Agência Carta Maior, 16-11-2009.
Fonte: UNISINOS

O jornalista Luis Nassif comenta neste domingo em seu blog o editorial publicado na Folha de São Paulo, que critica "práticas desleais na internet" que, supostamente, estariam "colocando em risco as bases que permitem o exercício do jornalismo independente no país". A Folha, no caso, se apresenta como porta-voz do "jornalismo independente". Uma piada, diz Nassif, que questiona:

"Qual o direito de conhecer a verdade que a Folha propõe? A ficha falsa de Dilma? Os arreglos com Daniel Dantas? A série sistemática e diária de matérias falsas, manipuladas, a deslealdade reiterada contra seus próprios jornalistas que não seguiram a cartilha?"

Abaixo o editorial da Folha e, depois, o comentário de Nassif:

O editorial: "Direito à informação"

Práticas desleais na internet colocam em risco as bases que permitem o exercício do jornalismo independente no país

DEMOCRACIAS tradicionais aprenderam a defender-se de duas fontes de poder que ameaçam o direito à informação.

Contra a tendência de todo governo de manipular fatos a seu favor, desenvolveram-se mecanismos de controle civil - caso dos veículos de comunicação com independência, financeira e editorial, em relação ao Estado. Contra o risco de que interesses empresariais cruzados ou monopólios bloqueiem o acesso a certas informações, criaram-se dispositivos para limitar o poder de grupos econômicos na mídia.

Essas salvaguardas tradicionais se veem desafiadas pelo avanço da internet e da convergência tecnológica nas comunicações - paradoxalmente, pois esse mesmo processo abre um campo novo ao jornalismo.

Apesar da revolução tecnológica e do advento de plataformas cooperativas, a produção de conteúdo informativo de interesse público continua, majoritariamente, a cargo de organizações empresariais especializadas. O acesso sistemático a informações exclusivas, relevantes, bem apuradas e editadas sempre implica a atuação de grandes equipes de profissionais dedicados apenas a isso. Essas equipes precisam ser remuneradas - ou o elo se rompe.

Quando um serviço de internet que visa ao lucro toma, sem pagar por isso, informações produzidas por empresas jornalísticas, as edita e as difunde a seu modo, não só fere as leis que resguardam os direitos autorais. Solapa os pilares financeiros que têm sustentado o jornalismo profissional independente.

Quando um país como o Brasil admite um oligopólio irrestrito na banda larga - a via para a qual converge a transmissão de múltiplos conteúdos, como os de TVs, revistas e jornais-, alimenta um Leviatã capaz de bloquear ou dificultar a passagem de dados e atores que não lhe sejam convenientes. A tendência a discriminar concorrentes se acentua no caso brasileiro, pois os mandarins da banda larga são, eles próprios, produtores de algum conteúdo jornalístico.

Quando autoridades se eximem de aplicar a portais de notícias o limite constitucional de 30% de participação de capital estrangeiro, abonam um grave desequilíbrio nas regras de competição. Veículos nacionais, que respeitam a lei, têm de concorrer com conglomerados estrangeiros que acessam fontes colossais e baratas de capital. Tal permissividade ameaça o espírito da norma, comum nas grandes democracias do planeta, de proteger a cultura nacional.

Contra esse triplo assédio, produtores de conteúdo jornalístico e de entretenimento no Brasil começam a protestar.

Exigem a aplicação, na internet, das leis que protegem o direito autoral. Pressionam as autoridades para que, como ocorre nos EUA, regulamentem a banda larga de modo a impedir as práticas discriminatórias e ampliar a competição. Requerem ao Ministério Público ação decisiva para que empresas produtoras de jornalismo e entretenimento na internet se ajustem à exigência, expressa no artigo 222 da Carta, de que 70% do controle do capital esteja com brasileiros.

A Folha se associa ao movimento não apenas no intuito de defender as balizas empresariais do jornalismo independente, apartidário e crítico que postula e pratica. Empunha a bandeira porque está em jogo o direito do cidadão de conhecer a verdade, de não ser ludibriado por governos ou grupos econômicos que ficaram poderosos demais.

A Folha "postula e pratica" um "jornalismo independente, apartidário e crítico"?
Só pode ser paranóica a criatura que escreveu este editorial!!
Enoisa 
 



Comentário de Nassif

Chega-se, finalmente, ao objetivo final do processo que explica o comportamento da mídia a partir de 2005, a politização descabida, as tentativas sucessivas de golpes políticos, os assassinatos de reputação de políticos, juízes, jornalistas. E para quê? Para se chegar ao embate final com pouquíssimos aliados. Esse acanalhamento do exercício do jornalismo fez com que a credibilidade da mídia atingisse o ponto mais baixo da história, viabilizasse outras alternativas no mercado de opinião.

Agora, qual a bandeira legitimadora para suas pretensões? A de que a mídia é a garantidora da liberdade de informação? Piada.

Esse mesmo álibi canhestro foi utilizado por Roberto Civita para tentar me convencer a aceitar o acordo com a Veja no final do ano passado. A revista passou todo o ano utilizando o jornalismo de esgoto para os ataques mais sórdidos, abjetos, não respeitando sequer família. E vinha o enviado especial dele trazendo o recado de que deveria aceitar o acordo em nome da liberdade de imprensa.

Conto apenas o meu caso. Como o meu, teve inúmeros. Em 2005, em entrevista ao Vermelho cunhei a expressão “o suicídio da mídia”, para descrever essa caminhada irreversível em direção ao fundo do poço. Agora, a mídia se posiciona para a grande batalha contra os portais e os grupos externos. Quem acredita nela?

Qual o direito de conhecer a verdade que a Folha propõe? A ficha falsa de Dilma? Os arreglos com Daniel Dantas? A série sistemática e diária de matérias falsas, manipuladas, a deslealdade reiterada contra seus próprios jornalistas que não seguiram a cartilha?

O futuro chegou e bandeiras que, antes, poderiam ser legítimas, ou estão rotas, puídas, desmoralizadas. Haverá uma grande batalha futura, contra os supergrupos que irão entrar no mercado. Mas dela não participará mais a velha mídia, que ficará restrito ao mundo fictício que ela próprio criou.



Frei Betto


Globalização e migração


Frei Betto
Fonte: Correio da Cidadania



Ao que chamam globalização, prefiro denominar globocolonização, e resulta de avanços tecnológicos de interação dos meios de comunicação e informação, que permitem o deslocamento, em tempo real, do capital financeiro, com o objetivo de desestabilizar (e descapitalizar) governos que resistem à hegemonia capitalista neoliberal.

No biênio 1950-60, como reação à crise estrutural do capitalismo instaurada no pós-guerra, a globocolonização se impôs em função da reestruturação econômica da hegemonia capitalista. Teve como característica a substituição do modo de produção tecnológico mecanizado pela tecnologia informatizada.

Tal processo, facilitado pelo período conservador Reagan-Thatcher dos anos 80, e o fim do socialismo na Europa do Leste, permitiram a ampla expansão do capital financeiro. O processo globocolonizador legitimou a desconstrução do Estado-nação, a hegemonização do planeta sob o controle das nações metropolitanas e a supremacia do mercado sobre o Estado.

A economia passou a ser tratada como esfera distinta das esferas política e social. O governo Lula ratificou essa autonomia da esfera econômica ao entregar o Banco Central em mãos de um economista filiado ao PSDB, Henrique Meirelles. Criou-se uma interconexão entre as economias nacionais dos países do G8 e daqueles que, como o Brasil, são considerados em vias de desenvolvimento. A recente crise financeira nos EUA e seus reflexos internacionais o comprovam.

Embora a globocolonização favoreça a livre circulação do capital, ela restringe a livre circulação de pessoas. Impede-se a globalização da migração. Nos séculos passados, a migração representou um fator positivo que expandiu o comércio e a economia, permitiu a criação de nações, fortaleceu a urbanização, estimulou intercâmbios sociais e culturais. O sistema capitalista suportou a migração Norte-Sul, sobretudo nos períodos de desemprego pós-guerras (7 milhões de europeus chegaram à Argentina na virada dos séculos XIX e XX) mas, hoje, rechaça a migração Sul-Norte e teme a Leste-Oeste.

Por força do semicolonialismo, o processo migratório tende a crescer. Segundo a ONU, em 1965 os migrantes internacionais eram 75 milhões; 84 milhões em 1975; 105 milhões em 1985; e, em 2000, 150 milhões.

Os avanços tecnológicos das últimas décadas permitiram aos trabalhadores dos países ricos atividades menos exaustivas; houve melhora nas condições de trabalho; conquista de mais diretos trabalhistas. A classe trabalhadora dos países pobres, entretanto, que extrai e manufatura matéria-prima para os países ricos, se tornou muito mais explorada. O que provocou aumento da migração.

Se hoje existem mais de 4 milhões de brasileiros em busca de trabalho no exterior é por falta de esperança no mercado interno. E não há muro, lei ou polícia que reduza o fluxo migratório enquanto não se romper a dependência do mundo em relação ao G8. Este que se prepare para quando a muralha da China for transposta por hordas de migrantes…

Pe. Alfredo Gonçalves



Cidade e seus muros


Por Pe. Alfredo Gonçalves, assessor das pastorais sociais da CNBB.
Fonte: Correio da Cidadania



Celebramos o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim. Mais que um muro que dividia em duas uma cidade, representou um mundo bipolarizado entre a União Soviética e os Estados Unidos, cada qual com seus satélites. Representou os tempos da guerra fria e de dois sistemas de produção, economia neoliberal e centralizada. Berlim voltou a ser uma cidade livre? O mundo, a circulação das pessoas e o regime democrático voltaram a ser mais livres?

Desde os primórdios do mundo moderno, novas rotas comerciais faziam florescer cidades prósperas. A partir dos séculos XII e XIII, o capitalismo mercantil opõe ao universo feudal, cerrado e autônomo por natureza, uma rede aberta de centros urbanos e interligados entre si. As mercadorias rompem as fronteiras e estabelecem novas comunicações. Os chamados "descobrimentos", nos séculos seguintes, alargam e aprofundam esses itinerários comerciais, ao mesmo tempo em que conferem maior vitalidade e poder às cidades européias.

Está pavimentado o caminho para a Revolução Industrial e para o capitalismo industrial. Os "novos ricos", ou burgueses, com o acúmulo de capital provindo do comércio, incrementam oficinas, fortalecem a potência das esquadras navais e incentivam os inventos, como a máquina a vapor, por exemplo. Tudo isso exige disponibilidade de braços para uma série de trabalhos. Numerosos servos passam a trocar a "proteção do feudo" pelos ofícios na cidade. Daí o provérbio medieval de que "o ar da cidade torna os homens livres".

Valeria esse provérbio para a urbanização brasileira? A resposta é forçosamente ambígua. Por um lado, é certo que grande parte dos rapazes e moças, como também das famílias, se livram, através da migração, do patriarcalismo e do coronelismo rurais tão arraigados em nossa trajetória histórica. Os olhos de muitos trabalhadores e trabalhadores, na passagem da zona rural para a zona urbana, se abrem para os próprios direitos e para uma série de coisas novas. Muitos fazendeiros não querem saber de contratar pessoas que já tenham passado pela experiência urbana, seja como operário ou empregada doméstica. Muitos jovens do campo também se recusam a casar com mulheres que tenham trabalhado na cidade. Alegam que não são mais virgens. A verdade é que não as conseguem mais dominar a seu gosto. Se a tradição estática é a marca do campo, o dinamismo da novidade é o oxigênio da cidade.

No campo, as pessoas nascem revestidas de uma série de convenções sociais e de obrigações que passam de pai para filho. Há uma herança tácita que passa inclusive pela religião, o que pode levar a um catolicismo infantilizado. Na cidade prevalece a tendência a uma maior liberdade de escolha. As pessoas nascem nuas e devem abrir uma picada na selva de pedra. Daí a predisposição a solidariedades mais autênticas, menos convencionais, mais amadurecidas.

Por outro lado, não raro, a liberdade do mundo urbano contém armadilhas, com freqüência leva aos becos escuros e sem saída. De fato, o conceito de liberdade difundido pela indústria do marketing e da publicidade é a de fazer o que se quer. E liberdade sem regras, sem leis, sem limites, facilmente conduz ao abismo. Que o digam os porões sórdidos da droga, do tráfico, do álcool, da prostituição e da violência! Além disso, os estímulos e apelos das "luzes e sons, cores e sabores, imagens e objetos" do mundo urbano aprisionam a não poucos num consumismo vicioso, cheio de ilusões e modismos, de verdadeira escravidão.

O fato é que as cidades de hoje, especialmente as metrópoles, estão longe de ser territórios sem muros. Estes, ainda que invisivelmente, se estendem por toda mancha urbana. Mosaico ou caleidoscópio, como preferem alguns estudiosos, a cidade reúne e justapõe diferenças que coexistem, mas raramente se integram. As diferenças podem ser de natureza sócio-econômica, como condomínios fechados ao lado de favelas; podem ser marcadas pelo víeis religioso e cultural, em que vários povos exibem seus mais variados costumes e expressões; ou de caráter autodefensivo, dando origem às tribos urbanas, aos guetos ou aos "pedaços" mais ou menos fechados e hostis. Exemplo dessa dicotomia pode ser o trânsito, onde os automóveis mais modernos e equipados trafegam lado a lado com as "carroças" de mais de 30 anos, amassadas e fumarentas, às vezes únicos meios de sobrevivência de bom número de famílias.

Mas os muros invisíveis tornam-se cada vez mais visíveis. Basta constatar os sistemas de segurança, cuja sofisticação cresce na mesma medida do medo e da segregação. Grades, cercas, câmeras, cães, alarmes e guardas noturnos multiplicam-se por toda parte. Prosperam as companhias de vigilância. Pública ou privada, a segurança investe em novos meios e tecnologia de ponta. Do lado extremo, o crime organizado não deixa por menos, investindo também em armamento pesado e no recrutamento de jovens e adolescentes cada vez mais precoces.

O ar da cidade nos torna livres? Além de poluído pelo gás carbônico, parece adensar-se, por um lado, de luzes, novidades, oportunidades mil; por outro, de medos, fobias, angústias e estresse. Fabricamos gaiolas e nos metemos dentro delas como verdadeiros prisioneiros. Enquanto o muro de Berlim dividia capitalismo e comunismo, os muros de hoje dividem pessoas, grupos, classes sociais, tribos urbanas, gangues, bairros, vizinhos. Pelo menos uma coisa parece esclarecer-se: a fronteira entre o bem e o mal passa por dentro de cada pessoa, de cada língua e de cada cultura.

domingo, 15 de novembro de 2009

Luiz Gonzaga Belluzzo


Neoliberalismo e crise sino-americana

Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 15-11-2009.
Fonte: UNISINOS


O mundo se abriu para o novo milênio dominado por certezas que hoje se desmancham sob a ação demolidora da crise financeira. A ideologia neoliberal, quase sem resistências, tentou demonstrar que, com a queda do Muro de Berlim, o espaço político e econômico tornou-se mais homogêneo, menos conflitivo, havendo concordância a respeito das tendências da economia e das sociedades.

Afirmavam que as questões essenciais relativas às formas de convivência e à "eficiência" do regime de produção estavam resolvidas: a regulação da sociedade pelo mercado é a conquista definitiva e insuperável da humanidade. Não há mais razão, diziam, para se colocar em discussão questões anacrônicas, tais como a reprodução das desigualdades ou as tendências dos mercados a sair dos trilhos, frequentemente destrambelhados pelos excessos nascidos de suas engrenagens.

Depois da crise, os porta-vozes desse quase consenso, economistas e quetais, sofreram um apagão intelectual. No auge da tormenta, recolheram-se ao silêncio. Passado o vendaval que ajudaram a semear, já agarrados aos salva-vidas lançados pela famigerada intervenção dos governos, entregaram-se a tortuosas e acrobáticas manobras de justificação de suas convicções.

Michel Foucault, um dos pensadores mais fecundos do século XX, não é economista. Talvez por isso tenha compreendido com maior abrangência e profundidade o significado do neoliberalismo. Contrariamente ao que imaginam detratores e adeptos, diz ele, o neoliberalismo é uma "prática de governo" na sociedade contemporânea. O credo neoliberal não pretende suprimir a ação do Estado, mas, sim, "introduzir a regulação do mercado como princípio regulador da sociedade".

Foucault dá importância secundária à hipótese mais óbvia sobre a arte neoliberal de governar, aquela que afirma a imposição do predomínio das formas mercantis sobre o conjunto das relações sociais. Para ele, "a sociedade regulada com base no mercado em que pensam os neoliberais é uma sociedade em que o princípio regulador não é tanto a troca de mercadorias como os mecanismos da concorrência (...). Trata-se de fazer do mercado, da concorrência e, por consequência da empresa, o que poderíamos chamar de "poder enformador da sociedade'".

(Sob a óptica foucaultiana, a China é, sim, uma economia de mercado).

Tanto a "nova ordem mundial" como sua crise foram construídas e deflagradas no jogo estratégico disputado entre as empresas globais e seus Estados nacionais. Esse fenômeno político-econômico envolveu os protagonistas relevantes da cena global: os EUA, apoiados em sua liderança financeira e monetária, e a China, ancorada em sua crescente superioridade manufatureira. Obama está a caminho da China porque é óbvio que a superação da crise atual não depende apenas da ação competente dos Tesouros nacionais e dos bancos centrais, mas supõem um delicado rearranjo das relações políticas e concorrenciais que sustentaram o modelo sino-americano. Parece que não é fácil.

Carta Aberta à Comunidade Acadêmica

Nós, estudantes, professores( as) e servidores(as) da UnB, viemos através dessa Carta manifestar nosso repúdio ao ato de violência machista e sexista, ocorrido no dia 22 de outubro na Universidade Bandeirantes (Uniban - SP), onde a estudante Geyse Arruda foi perseguida, agredida, ofendida e ameaçada de estupro por estar trajando um "vestido curto". As imagens divulgadas através da mídia e na internet, chocam pelo conteúdo agressivo e pelas manifestações de selvageria e barbárie cometidas por grande parte dos estudantes da universidade. Isso demonstra, como o machismo segue atuando de forma brutal no interior da sociedade.

Repudiamos também a direção da UNIBAN, que ao expulsar Geyse Arruda, comete da sua parte também um ato de violência, reproduzindo o machismo e a discriminação da qual a estudante foi vítima, atitude essa totalmente incompatível com uma instituição que deveria cumprir o papel de educar, e não de comercializar diplomas. Acreditamos que o espaço universitário deve ser local de construção de conhecimento que possa contribuir para a superação dos valores, vícios e práticas machistas, e não de referendá-las.

A atitude de julgar a estudante a partir da roupa que trajava, se sustenta nos valores discriminatórios que integram a sociedade capitalista que vivemos, onde as representações sociais da mulher se baseiam numa ótica de subserviência masculina. Ao invés de culpabilizar a estudante pela roupa que usava, é preciso questionar o processo de mercantilizaçã o do corpo feminino, e a lógica patriarcal que define que as mulheres não podem decidir o que vestir, o que falar, o que fazer. Na raiz dessa manifestação bárbara ocorrida na UNIBAN, existem os mesmo valores machistas que levam milhares de mulheres a serem vítimas de estupros, violência física e mesmo assassinatos. A agressão contra Geyse é uma violência à todas as mulheres.

Exigimos que a Reitoria manifeste uma posição institucional sobre o caso ocorrido na UNIBAN denunciando a violência ocorrida contra Geyse Arruda bem como a punição aos agressores envolvidos no episódio, inclusive a Direção da UNIBAN. Entendemos que na UnB também são inúmeros os casos de alunas que sofrem com agressões machistas, inclusive sofrendo estupro no interior dos campi. Acreditamos que são necessárias políticas institucionais que coíbam atitudes machistas contra estudantes, garantindo a segurança das mulheres nos campi e políticas de assistência estudantil, como creches, viabilizando a permanência das estudantes na universidade. Também reivindicamos UM Centro de Referência da Mulher e o levantamento dos dados de todos os casos de violência contra a mulher registrados nos 4 campi. Somente com políticas concretas e cotidianas poderemos avançar no combate ao machismo em nossas universidades.

Brasília, 11 de novembro de 2009.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Paulo Nogueira Batista Jr


''Trabalho de Deus''
"O que vimos nos EUA e na Europa talvez tenha sido a maior socialização de prejuízos da história econômica mundial", constata Paulo Nogueira Batista Jr., economista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 12-11-2009.
Fonte: UNISINOS


O presidente do Goldman Sachs, o sr. Lloyd Blankfein, concedeu entrevista ao jornal "The Sunday Times", publicada no último domingo. Eu estava fazendo escala em Londres, na volta da reunião do G20 na Escócia, e li estupefato a seguinte declaração, estampada no alto da primeira página: "Os bancos fazem o trabalho de Deus".

Bem sei, leitor, que Deus escreve certo por linhas tortas, mas - convenhamos - mesmo a nossa crença na Divina Providência tem seus limites e suas hesitações. Segundo o sr. Blankfein, os bancos "desempenham um papel social", ajudando as empresas a crescer, investir e gerar empregos. O correto seria dizer que os bancos deveriam desempenhar esse papel. Se o fazem ou não, é uma questão altamente controvertida - para dizer o mínimo.

Mais próximo da verdade esteve Lord Turner, presidente da "Financial Services Authority" do Reino Unido, quando declarou que grande parte do sistema bancário moderno é "socialmente inútil". A julgar pelo estrago provocado pela especulação nos anos recentes, Lord Turner poderia ter ido mais longe: grande parte do sistema bancário moderno é socialmente pernicioso.

Correndo o risco de homenagear o Conselheiro Acácio, faço a ressalva: uma economia moderna precisa de um setor bancário sólido. O problema é que nas últimas três décadas ocorreu uma hipertrofia do sistema financeiro. O setor cresceu extraordinariamente e se tornou mais complexo e opaco. Acumularam-se riscos e vulnerabilidades muito graves.

Os Estados e os bancos centrais falharam de maneira dramática na supervisão e na regulamentação do sistema, principalmente nos EUA e na Europa. As instituições privadas passaram a funcionar em larga medida à margem de controles oficiais. Políticas monetárias expansivas nos EUA e em outros países emissores de moedas de liquidez internacional alimentaram a especulação financeira e levaram à formação de uma série de bolhas nos mercados de ativos. A última delas estourou em 2007-2008 e levou a economia mundial à pior crise dos últimos 70 anos. Os países desenvolvidos ainda estão juntando os cacos.

Para socorrer o sistema financeiro e evitar uma nova Grande Depressão, os Estados dos países desenvolvidos gastaram verdadeiras fortunas. O que vimos recentemente nos EUA e na Europa talvez tenha sido a maior socialização de prejuízos da história econômica mundial. Apesar disso tudo, os governos e Congressos desses países ainda não foram capazes de apresentar e implementar planos suficientemente rigorosos para reformar e disciplinar o sistema financeiro.

Aqui nos EUA e também na Europa, a opinião pública está subindo pelas paredes como lagartixa profissional. Se o sr. Blankfein, que teve a sua face sorridente também estampada na primeira página do jornal, resolver sair à rua, será provavelmente caçado a pauladas feito ratazana prenhe (como diria Nelson Rodrigues).

Trabalho de Deus! A declaração do presidente do Goldman Sachs é sintomática. Os bancos que sobreviveram ao holocausto financeiro estão, em alguns casos, muito mais fortes e passaram a dominar ainda mais segmentos importantes do mercado. Formaram-se verdadeiros mamutes financeiros que faturam alto nos momentos favoráveis, embolsando lucros e distribuindo bônus nababescos a seus executivos. Grandes demais para quebrar, podem operar com a convicção de que serão socorridos pelo Estado, isto é, pelos contribuintes, se as suas especulações não forem bem-sucedidas.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Entrevista - Allen Shawn


Medo revelado



por Eduardo Fonseca
Fonte: CULT ON-LINE



Compositor, pianista e professor, Allen Shawn (foto) não é nenhum especialista em fobias. É antes uma vítima que resolveu colocar no papel os problemas gerados pelas suas próprias fobias. Seus medos não são poucos e se estendem a diversos objetos: altura, água, campos abertos, estacionamentos, túneis e estradas desconhecidas. Clinicamente, ele chamado de agorafóbico, uma pessoa que tem medo tanto de espaços públicos quanto de isolamento. No dia-a-dia, ele é um cidadão de meia idade (nascido em 1948), casado, pai de três filhos, que se dispôs a fazer uma auto-avaliação sob o ponto de vista de um homem que sofre determinado mal e que resolve ir atrás de suas causas e conseqüências. O título de seu livro, lançado há dois meses, "Bem que eu queria ir", retrata bem a atmosfera que cerca o autor. Um ambiente que lhe exige quebrar barreiras que, inexplicavelmente, para ele, são intransponíveis. "Às vezes tenho convites para tocar na Europa, na Austrália, Nova Zelândia, mas não posso ir. Nem sempre consigo estar onde gostaria", lamenta.

Para Shawn, a escrita de sua trajetória de vida, que inclui memórias, reflexões e pesquisas científicas, foi uma atividade árdua, mas que lhe suscitou, além de muitas descobertas, "muitos sentimentos". Segundo afirma, diversas pessoas passaram a se reconhecer com o que ele dizia. Pessoas comuns que nem são diagnosticadas como fóbicas, mas que sofrem com suas próprias ânsias. Pois, hoje, ele analisa, "há muitas maneiras de estarmos angustiados mentalmente". Por telefone, de sua casa no estado de Vermont, nos EUA, Shawn fala à CULT sobre seu livro e sua experiência entre a vida e o medo.


CULT - O livro " Bem que eu queria ir " descreve as suas próprias dificuldades. Fazer uma revisão tão honesta de sua vida não abriu as feridas? O senhor sofreu ao fazer um balanço das suas limitações?

Acontece algo interessante quando você se dispõe a escrever, porque você começa a visualizar os seus problemas e, se estiver relaxado, automaticamente começa a recordar detalhes e até experiências completas que havia esquecido. De diversas formas me foi muito dolorido escrever esse livro. Ele suscitou muitos sentimentos e tive que lidar com minha vergonha ao perceber que tinha muitos problemas que não estava realmente disposto a comentar. Mas, por outro lado, me trouxe sentimentos positivos, pois estava revelando a um leitor sobre o meu interior. E nosso interior, hoje em dia, se tornou uma das coisas mais interessantes para se discutir. Eu não escrevi para reclamar das coisas que acontecem comigo ou que me deixaram assim. Escrevi e, posteriormente, senti uma esperança de que outras pessoas poderiam achar coisas valiosas naquilo que estava compartilhando, que elas poderiam achar algo maior do que eu pensava ter escrito.


CULT - No livro, o senhor faz a seguinte declaração: "para tudo o que fiz, há muito mais de que desisti". A constatação da paralisação e impotência diante da vida pode ser frustrante. Escrever o livro ajudou a resolver algumas de suas frustrações?


Acho que o equilíbrio entre algo positivo e negativo é muito tênue. De certa forma, não sou uma pessoa retraída. Eu gosto de arte, música contemporânea, gosto do ato de se expressar, de dar opinião. Faço concertos como pianista, ministro aulas, dou palestras... Então, sou capaz de passar por cima de muitos medos que todos nós temos. Pegar esse lado negativo da nossa vida e transformá-lo em algo positivo é louvável. Seria ótimo se pudesse dizer que consegui controlar todos meus medos de forma tão eficiente assim, mas não é o caso. Mesmo assim, diante daquilo que ainda me é negativo, resolvi tomar uma atitude e investigar. Fui um privilegiado, pois consegui transformar em palavras, com algum mérito literário, uma parte desse meu lado negativo e, com isso, atingir pessoas que realmente não sabiam que esses problemas são importantes. As pessoas passaram a se reconhecer com o que eu dizia. E eu espero que, a cada dia, mais pessoas se identifiquem. Pois hoje há muitas maneiras de estarmos angustiados mentalmente. E a vida das pessoas não precisa ser fielmente parecida com a minha para termos o mesmo tipo de problema.

CULT - A sua família é incomum e criativa. Seu pai, o prestigiado jornalista William Shawn, era fóbico e levava uma vida dupla, sua irmã gêmea Mary é autista, sua mãe, a jornalista Cecile Lyon, negava a origem judaica e também era fóbica. Seu irmão é o conceituado dramaturgo Wallace Shawn. Acredita que as neuroses são transmitidas geneticamente ou a convivência com elas tem influência no padrão de comportamento?

Eu sou só um músico, não um cientista. Mas eu sinto que a genética tem um papel importante nesse tipo de questão. No caso da minha irmã, por exemplo, percebo que os pais que têm filhos autistas carregam algumas características do autismo dentro da personalidade. Ninguém diria que os pais de alguém autista também são autistas, mas existe essa peculiaridade. Acho que todos os membros da minha família possuem alguns ingredientes para terem problemas psicológicos. Agora, a maneira em que somos criados obviamente causa grande impacto também. Se eu tivesse crescido num lugar diferente, com uma família diferente, se tivesse sido levado para acampar, pescar, para viagens de avião, provavelmente teria desenvolvido um sentimento de segurança a respeito dessas coisas. Por outro lado, acredito que teria essas tendências biológicas ligadas à ansiedade se manifestando em outras coisas. Mas no que acredito mesmo é que as coisas que fazemos de maneira feliz e confortável com a família preservam a gente de muitos problemas futuros.

CULT - Você tem três filhos, como você os observa em relação a seus problemas? Você acha que de alguma forma eles herdaram alguns de seus medos?

Acho que não. Fui casado duas vezes, minha esposa atual é uma pianista japonesa e temos um filho de 1 ano. Então não dá para saber da personalidade dele, apesar de parecer um menino muito feliz. Mas meus outros dois filhos, de 20 e 24, têm certa ansiedade, mas de um tipo diferente da minha. O importante é não mostrar a nossos filhos os nossos próprios medos. Se você mostrar a um macaco, por exemplo, um filme de um outro macaco assustado por alguma coisa, isso irá influenciá-lo . Medo é contagioso. Se você vê seu pai reagindo a algo com medo, isso é uma imagem muito poderosa. Então fiz o melhor para mostrá-los que as coisas que me perturbavam não eram perigosas, que se tratava de um problema pessoal estritamente meu.

CULT - A agorafobia é isoladora. O senhor cita a escritora Emily Dickinson que vivia pânicos constantes e, no entanto, possui uma obra espetacular. As fobias ajudam a criatividade? Kafka teria existido sem as suas fobias?

Eu acho que esse tipo de hiper-sensibilidade é constantemente associada a uma percepção aguda de aspectos da vida que muitos não se dão conta de que existem. Todos temos diferentes percepções de mundo, pois há tanta informação circulando que é impossível perceber tudo que acontece de uma mesma maneira. Cada um tem sua sensibilidade. Agora, um certo nível de fobia na vida envolve reflexão do que está acontecendo. Medo e reflexão andam muitas vezes lado a lado. Se você pensa em guerras, por exemplo, você poderá ver isso. O que um soldado deve fazer quando ele tem que subir um morro se teoricamente ele sabe que lá no alto será atingido por uma bala? O soldado tem que fechar sua mente para o medo, mas também para o que está acontecendo em volta. Então, de certa forma, quando você sente medo, você está experimentando o mundo de uma forma muito intensa. Existem, contudo, níveis de medo. Acho que é necessário ter grande sensibilidade para se expressar artisticamente, mas isso não quer dizer que essa sensibilidade seja condicionada a alguma fobia.

CULT - O senhor cita muito Darwin em seu livro. Qual é a importância dele para o entendimento das neuroses?

Acho que no fundo de tudo somos parte da natureza. Nos achamos realmente muito espertos, mas vivemos em um mundo em que só escutamos a nossa própria voz. É essa a grandiosidade do homem: só escutar a si mesmo. Não escutamos os insetos, os pássaros, os ursos... A verdade é que somos parte da natureza tanto quanto esses animais, e todos temos uma reação fisiológica em relação ao mundo. Ler Darwin me ajudou a ver que, quando me sinto miserável, de alguma maneira estou colocando uma dimensão humana num problema fisiológico. Uma dimensão que deveríamos ver como parte do mundo e não como algo isolado, nosso. Deveríamos relacionar esse sentimento a outras pessoas. Eu aprendi a ver meus defeitos como algo vasto, complicado e misterioso e, sendo assim, como uma beleza particular. Isso demanda uma visão mais poética do mundo.

CULT - O processo fóbico é um círculo neurobiológico contínuo que se alimenta apenas de si próprio. Quando o alarme do pânico dispara, pela sua experiência, qual é a saída?

Acho que o caminho é entender a ansiedade o mais cedo possível e tentar reconstruir a trilha que ela faz para mudar a nossa reação diante dela. Temos que aprender a não entrar em pânico devido simplesmente ao pânico em si mesmo. Existe um ciclo que ocorre quando se está ansioso que faz com que, quando a ansiedade nos acomete, a gente reaja de uma forma que a potencializa. Então, saber do que se trata a ansiedade e, fundamentalmente, saber que não estamos morrendo ou ficando loucos já é um grande passo. Nesse sentido, acho que os terapeutas cognitivos estão no caminho certo. Eu também acredito na boa e velha psicologia. O importante é viver uma vida plena e não superficial.

CULT - Neste sentido você acha que a religião pode cumprir um papel importante?

Bom, eu sou um compositor e não se pode ser um compositor sem uma crença forte em algo. Quando eu escuto J.S.Bach, enquanto a música toca, eu sou um crente. Mas não tenho uma prática religiosa. Meus pais são ateus. Independente disso, porém, tenho um grande respeito pela religião e não acho que há algo que possa substituí-la. Estamos cometendo um grande erro ao tentar achar um equivalente para a religião na nossa vida cotidiana. Pois acredito que ela seja o único instrumento que nos faz abaixar a cabeça para a natureza e, dessa forma, nos torna parte de algo maior.

CULT - Como a leitura de Freud o ajudou a compreender a sua doença?

Freud era um grande escritor que conseguiu conversar sobre as profundas experiências das pessoas. Ele abriu um território totalmente novo que estava fechado na vida interior das pessoas. Se eu tenho uma crença, seria a de que cada pessoa é um continente. Que aquilo que acontece dentro das pessoas importa, e muito! Não digo que Freud é preciso em tudo que diz, mas foi um desbravador.

CULT - No livro não fica claro se o senhor utiliza algum medicamento. O senhor toma remédios? Tem o acompanhamento de um psiquiatra ?

Eu faço análise, o que me ajuda a ficar mais tranqüilo. Quanto a medicamentos, não os tomo. Se eu tivesse 30 anos hoje, eu definitivamente experimentaria medicamentos. Mas aos 60 já não consigo, embora aparentemente muita gente tenha sucesso com tais tratamentos.

CULT - Mas qual a diferença em tomar medicamentos aos 30 e aos 60? Por que você os tomaria no passado e hoje se recusa?

É complicada essa questão, mas acho que eu não deveria ter criado uma resistência radical aos remédios, pois muitas reações fóbicas que tenho provavelmente seriam mais fáceis de serem superadas com um medicamento. O meu problema é que os remédios deixam as pessoas passivas demais, desanimadas, e eu ainda prefiro estar ansioso, mas excitado.

CULT - O fóbico acredita que seus pensamentos terríveis podem mudar a ordem das coisas, que a catástrofe de suas idéias pode interferir nos acontecimentos (um pensamento mágico). Quando é provado que nada aconteceu de trágico - ao atravessar uma rua, por exemplo - isso não diminui a sensação de pavor? E, caso a resposta seja negativa, por qual motivo isso não acontece?

Seria muito bom se esse tipo de pensamento lógico funcionasse na cabeça de um fóbico, mas infelizmente não é assim que acontece. Acredito que o temor que sentimos não está localizado em seu objeto figurativo. Não é o avião que vai cair, não é a ponte que nos causa medo. No fundo, o medo do fóbico é o seu próprio pânico que ali se materializa de uma maneira figurativa. Seria um pânico travestido de algo que envolve a sobrevivência, por exemplo. O objeto do medo me parece uma maneira do fóbico lidar e vivenciar o seu pânico, de colocá-lo para fora de si por algum momento.

CULT - O senhor escreve sobre a vergonha desse aspecto de sua personalidade. Como lidar com isso agora que seu problema se tornou público?

Não senti preconceito por parte das pessoas. Senti até mais tranqüilidade a respeito de mim mesmo, passei a não ter mais certas posturas que não condiziam com minha vontade. Foi uma ótima experiência.

CULT - A OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgou recentemente uma pesquisa alarmante: em 2030 a depressão será a doença mais comum do mundo. Algumas escolas médicas acreditam que distúrbios de ansiedade, pânicos e fobias têm origem em personalidades depressivas. Os laboratórios vão produzir um remédio capaz de conter esse mal? As terapias cognitivas e as análises vão evoluir? Você é um otimista?

Esses dados são incríveis. Mas acredito que o mundo não é mais deprimente do que era no século XIV, quando havia pragas que matavam milhares de pessoas, quando havia muitas guerras e escravidão. O mundo não está ótimo, mas não está pior do que um dia já foi. Eu diria que essa constatação foi um ponto que me motivou a escrever esse livro. Porque é terrivelmente deprimente sentir-se mal a respeito de si mesmo e não ter um motivo pleno. Então não escrevi um livro de alguém lamentando a sua vida. Trata-se mais de um contra-ataque ao sentimento de desespero. Kierkegaard (filósofo dinamarquês) fala que desespero é um pecado original. E isso é muito interessante, porque a vida é uma grande oportunidade e temos que aproveitá-la. Então é péssimo saber de tais dados que apontam a depressão como o principal problema de saúde no futuro. As pessoas têm que se conectar mais às outras. Existe uma crise de sentido no mundo. Se a vida tem um sentido, ela pode ser trágica e triste, mas a gente se agüenta em pé. Se eu ficar uma tarde vendo televisão neste país, eu fico tão deprimido... Mas se escuto Mozart, Bach, Schoenberg, consigo vislumbrar sentido. O problema é que estamos cercados por um monte de lixo que não nos diz nada. Isso é desmoralizante.




Bem que eu queria ir
Allen Shawn

Companhia das Letras
312 pp.
R$ 48

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Marco Aurélio Weissheimer


Não é possível pensar o desenvolvimento dos Estados, desvinculado de um projeto de país’


Não é mais possível que um Estado pense uma política de desenvolvimento local desvinculada da vertente nacional. A guerra fiscal, muito praticada no país nas últimas décadas, é uma equação de soma zero. Isso não é projeto de país. A avaliação é do presidente do IPEA, Marcio Pochmann, que participou em Porto Alegre de um seminário para pensar o futuro do Rio Grande do Sul e a possibilidade de projetos de desenvolvimento regional. Para Pochmann, o modelo de desenvolvimento fordista de São Paulo, outrora chamado de "locomotiva do país", está ultrapassado e precisa ser superado. A reportagem é de Marco Aurélio Weissheimer e publicada pela CartaMaior, 07-11-2009.
Fonte: UNISINOS


O Brasil terá uma grande oportunidade em 2010 de discutir um projeto de longo prazo para o país. Será uma oportunidade singular no ciclo de 24 anos de redemocratização, pós-ditadura militar. Neste período, os momentos eleitorais foram contaminados por debates conjunturais determinados pelos sérios constrangimentos econômicos internos e externos vividos pelo país. Agora, estão dadas as condições para discutir o Brasil que queremos e não apenas questões conjunturais. A avaliação é de Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que abriu sábado pela manhã, em Porto Alegre, o ciclo de seminários Diálogos RS – Para Pensar o Rio Grande do Sul, uma promoção do PT gaúcho e da Fundação Perseu Abramo.


Pochmann esteve em Porto Alegre para falar sobre “Desenvolvimento regional e local, o desafio da sustentabilidade ambiental, dos sistemas locais de produção e do trabalho”. Ele iniciou sua intervenção contextualizando o tema no atual período histórico que vive o país. “É importante lembrar que o Brasil ainda não tem uma tradição democrática. Em 500 anos de história, não temos 50 anos de democracia”. No período da redemocratização, acrescentou, o debate sobre o modelo de desenvolvimento se deu com o Brasil numa situação muito enfraquecida e periférica em relação ao capitalismo central. “Hoje, queremos assumir uma condição de liderança no cenário global e não ser um mero replicador de políticas definidas no exterior. Não avançaremos na marcha da insensatez que caracteriza o atual modelo destruidor do meio ambiente”.


O presidente IPEA do apresentou três elementos para orientar esse debate:


1. Economia do Conhecimento: cerca de 70% dos postos de trabalho gerados atualmente já são de trabalho imaterial. Está em curso um crescimento dos ativos vinculados ao trabalho imaterial, onde as pessoas não têm horários nem locais fixos de atuação. É um novo tipo de riqueza que está surgindo.

2. Sustentabilidade ambiental: não podemos mais imaginar que o novo padrão de desenvolvimento se dará repetindo o passado. Esse debate precisa levar em conta as características próprias de cada um dos seis biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. E deve considerar também o processo de inovação tecnológica que altera profundamente nossa relação com o meio ambiente. Pochmann chamou a atenção ainda para a relação entre as mudanças climáticas e os impactos que já estamos assistindo quanto ao uso de recursos hídricos e à produção de alimentos. “A se manter a tendência atual de mudanças climáticas, em pouco tempo o café só poderá ser produzido no Rio Grande do Sul”, exemplificou.

3. Nova demografia: Em 2030, deveremos ser 207 milhões de brasileiros (um número menor do que as expectativas projetadas anos atrás). Em 2040, seguindo a tendência atual, seremos 205 milhões. Considerando essa diminuição, cabe perguntar: interessa ao Brasil conter a população? Estamos vivendo um processo de envelhecimento populacional e de queda na taxa de fecundidade. Em 1992, tínhamos 34% da população até 15 anos de idade. Em 2008, esse número caiu para 24% e, em 2030, deverá ser de apenas 12%. Além disso, presenciamos também uma nova revolução sexual, com um descolamento da reprodução do sexo. Com as novas técnicas de fecundação, não é mais necessário ter sexo para se ter filhos. Também constatamos hoje um aumento da expectativa de vida dos brasileiros que, em alguns anos, poderá se aproximar dos 100 anos. Já temos hoje cerca de 3 milhões de pessoas com mais de 80 anos no Brasil. Esses dados indicam que estamos passando por um processo de mudanças dramáticas nas famílias brasileiras, com importantes conseqüências econômicas, sociais, culturais e educacionais.

Pochmann considera esses elementos fundamentais para fazer o debate sobre desenvolvimento regional. E essa avaliação já aponta para uma de suas teses centrais a respeito do tema: não é mais possível que um Estado pense uma política de desenvolvimento local desvinculada da vertente nacional. A guerra fiscal, exemplificou, muito praticada no país nas últimas décadas, é uma equação de soma zero. “Isso não é projeto de país”.

“O Rio Grande do Sul precisa rever a sua estratégia”

O debate sobre desenvolvimento regional deve-se livrar das amarras do passado, defende ainda Pochmann. “Não se trata mais do antigo regionalismo dos anos 30, quando se dizia que São Paulo, chamada de locomotiva do país, puxaria os vagões dos demais Estados. A estes restaria tentar copiar o modelo da locomotiva”. Foi isso, acrescenta, que nos levou, por exemplo, a introduzir uma indústria no meio da floresta, nos anos 60-70, a Zona Franca de Manaus. “Esse modelo de desenvolvimento fordista de São Paulo está ultrapassado. É verdade que vários estados brasileiros (o que não é o caso do Rio Grande do Sul) estão numa condição pré-fordista, mas eles não precisam passar pelo fordismo para atingir um novo patamar de desenvolvimento”. Mas como fazer isso então.

Para o presidente do IPEA, ganha força a possibilidade de sustentar o desenvolvimento a partir da base da pirâmide social que, no governo Lula ganhou uma forte rede de proteção social. “O Rio Grande do Sul precisa rever sua estratégia. Trata-se de um Estado que ainda mantém uma desigualdade singular. A Metade Sul vive como se estivesse no século XIX. A Região Norte, fortemente marcada pela agropecuária, tem o perfil do século XX. E a Região Nordeste apresenta setores mais dinâmicos, alguns deles apontando para o que estamos vendo nascer no século XXI”. Enfrentar essa situação de desigualdade é crucial, destaca Pochmann. Além disso, ele chama a atenção para a importância dessa política regional estar em sintonia com os movimentos nacionais:

Não cabe mais cada Estado pensar políticas separadas, como se não fizessem parte de um projeto nacional. É preciso se inserir nesta vertente nacional. Políticas como a da guerra fiscal, uma equação de soma zero, não nos leva a lugar algum. Não podemos seguir reproduzindo o passado e sendo governado pelos mortos.” Pochmann avançou na apresentação de algumas propostas que, na sua opinião, apontam para o futuro e para um projeto articulado de desenvolvimento nacional.

Precisamos reinventar o mercado, que está cada vez mais longe da livre iniciativa, dominado por grandes corporações. Estamos caminhando para um mundo com a economia dominada por aproximadamente 500 corporações. A China já definiu que quer ter 150 destas grandes corporações. Nós precisamos avançar no fortalecimento dos micro e pequenos negócios. Para isso, entre outras coisas, precisamos ampliar o número de bancos destinados a estes setores, como faz o Japão, por exemplo. Nós estamos caminhando na direção contrária. Nos últimos dez anos, o número de bancos no Brasil caiu de 230 para 160”.


Outras medidas para o fortalecimento de micro e pequenas empresas seriam o aporte de tecnologia para esse setor e a adoção de políticas para que possa participar das compras públicas. Mas esse novo projeto de desenvolvimento, salienta o economista, não passa apenas por medidas econômicas. Pochmann fala da necessidade de refundar o Estado brasileiro. “Construímos um Estado de caixinhas e especializações, que têm uma enorme dificuldade de articulação”. Ainda no plano institucional, ele defende a construção de uma nova maioria política que possa dar conta deste processo de mudanças.

Nos últimos anos, vemos o surgimento de novos atores sociais. Milhões de pessoas ascenderam socialmente. Mas onde elas estão organizadas? Não é nem nos sindicatos nem nos partidos políticos. Uma parte expressiva está se organizando em igrejas. Diante deste quadro precisamos avaliar se as instituições que temos hoje estão aptas a conversar com essas pessoas e se apresentam alguma promessa de futuro para elas”.

Tudo isso está no nosso horizonte de decisão, defende Pochmann. “A única coisa que nos impede é o medo, medo de ousar, medo de parar de ser governado pelos mortos”.

domingo, 8 de novembro de 2009

Entrevista - Eric Hobsbawm

O muro interior

Ícone da historiografia de esquerda, o britânico Eric Hobsbawm não perdoa: para ele, o principal efeito da queda do Muro de Berlim, em 1989, foi a desestabilização da geopolítica mundial em prol da única superpotência remanescente - os EUA. Como consequência, o mundo se tornou mais perigoso. A reportagem e a entrevista é de Marcos Flamínio Peres e publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo, 08-11-2009. Fonte: UNISINOS


Em "A Era dos Extremos" (Cia. das Letras), ele já defendera os desdobramentos da queda do muro como cruciais para o século XX. Mais do que isso: cruciais para encerrá-lo antes da hora. Daí o termo que cunhou, "breve século XX". Já do ponto de vista econômico, Hobsbawm afirma que o pós-1989 levou a um recorde de desigualdade social nos países da antiga Cortina de Ferro - termo que designava, durante a Guerra Fria, os países comunistas europeus sob influência soviética. Sobre Berlim, cidade que cristalizou a derrocada da velha ordem e o início da nova, o pensador se mostra decepcionado, na entrevista abaixo. Apesar de haver se tornado a capital do Estado mais rico da União Europeia, Berlim não se tornou a virtual capital da Europa - como se esperava 20 anos atrás - nem ficou à altura de seu glorioso passado anterior à ascensão do Terceiro Reich (1933). Coerente, Hobsbawm vê a crise financeira que assolou os mercados financeiros em 2008 como o "Muro de Berlim do neoliberalismo". Ele detecta nesse aparente revés capitalista a possibilidade de rearticulação do pensamento de esquerda - mas desta vez, alerta, em bases "mais realistas".

Passados 20 anos, qual é o legado político e econômico da queda do Muro de Berlim?

O legado econômico é certamente menos dramático do que o político. Economicamente, significou a destruição do que restara de um sistema socialista planejado na União Soviética e na Europa do leste - que já estava em declínio - e a integração da antiga região socialista à economia capitalista global.

Isso levou a um colapso social e econômico na ex-União Soviética, embora, posteriormente, a Rússia e algumas ex-repúblicas soviéticas tenham visto alguma recuperação, baseada nos altos preços da energia e dos insumos industriais.

Com algumas exceções, a região provavelmente permanece, em termos relativos, mais atrás do Ocidente do que estava antes da queda do muro. Ela desenvolveu um nível chocante de desigualdade econômica.

Os efeitos políticos, por sua vez, têm sido enormes. Eles reduziram a Rússia de superpotência a um Estado não maior do que era no século XVII. Além disso, a União Europeia saltou de 15 para 27 Estados, e foi criada uma Alemanha unificada no coração do bloco.

Também foi reintroduzida a guerra [conflito nos Bálcãs nos anos 90] e a instabilidade política na Europa, após o colapso do único Estado comunista, a Iugoslávia. Isso acabou por tornar os Bálcãs mais "balcanizados" do que antes.

Outro efeito da queda do muro foi a destruição de um sistema internacional estável. Isso porque se atribuiu aos EUA a ilusão de que poderiam, como única superpotência global, exercer sua hegemonia no mundo todo - o que acabou por transformar o mundo no lugar perigoso de hoje em dia.

Berlim não se tornou uma das principais capitais europeias, como se previa 20 anos atrás, e a Alemanha, embora rica, foi há pouco superada economicamente pela China. Nesse sentido, a queda do muro foi um fracasso?

Berlim não se tornou uma grande capital europeia porque a reunificação política das Alemanhas Ocidental e Oriental não teve como recriar um país genuinamente unido.

A antiga Alemanha Oriental - embora seus habitantes estejam hoje muito melhor do que estavam antes de 1989 - perdeu sua base econômica para a Alemanha Ocidental. Além disso, apresenta índices de desemprego elevados e continua a perder sua população para a antiga Alemanha Ocidental. Berlim tem muito poucos habitantes para uma cidade com sua importância histórica.

Para quem a visita, ela parece uma pessoa encolhida usando um sobretudo grande demais para seu peso atual. Culturalmente, nunca reconquistou a posição que detinha entre 1871 [quando o Império Germânico inaugurou o Segundo Reich] e a ascensão de Hitler [em 1933].

Isso não quer dizer que a Alemanha como um todo esteja em declínio. Ela, por exemplo, não pode ser comparada com a China (80 milhões de habitantes contra 1,3 bilhão). Mesmo com um PIB maior do que o da Alemanha, a China é muito menos desenvolvida, muito mais pobre e menos capaz em áreas como tecnologia de ponta.

Se há perigos futuros para a Alemanha como potência econômica, eles nascem da relativa lentidão do desenvolvimento econômico da UE.

A queda do muro representou o colapso do pensamento de esquerda?

Ela simbolizou, mas não foi a causa, da crise do pensamento de esquerda, que já vinha desde os anos 1970. Estritamente falando, ela apenas demoliu a crença de que o socialismo de corte soviético (economia planificada comandada por um Estado centralizador que eliminou o mercado e a iniciativa privada) era uma forma factível de socialismo.

Na verdade, como foi a única tentativa de realizar o socialismo na prática, seu fracasso desencorajou os socialistas como um todo - embora a maior parte deles tenha sido crítica do sistema soviético.

Entretanto as raízes da crise da esquerda retrocedem ainda mais. Ela ainda não chegou ao fim, mas o colapso do capitalismo financeiro global em 2008-9 -que foi uma espécie de queda do Muro de Berlim para a ideologia neoliberal - oferece uma chance de reabrir as perspectivas para a esquerda. Mas, espera-se, em uma base mais realista do que no passado.

sábado, 7 de novembro de 2009

''O que vim fazer aqui?''. Lévi-Strauss no Mato Grosso


"Os livros de Claude Lévi-Strauss, a partir do material coletado no Brasil, constituem o corpus mais significativo e filosoficamente interessante da antropologia do século XIX". A opinião é de Umberto Galimberti, filósofo, psicólogo e psicanalista italiano. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 04-11-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS

Tudo começou com um telefonema às 9h da manhã de um domingo de outono de 1934, quando Célestin Bouglé, tornando-se intérprete de "um capricho um pouco perverso" de Georges Dumas, perguntou a Claude Lévi-Strauss, então com 27 anos, se estava disposto a partir para o Brasil sob o encargo de uma comissão encarregada de organizar a universidade de São Paulo. Lévi-Strauss, que então lecionava no Liceu de Laon, aceitou sem hesitar e partiu para o Brasil, onde permaneceu até 1939.


Nesses cinco anos, além da cátedra de sociologia que lhe havia sido confiada, Lévi-Strauss realizou expedições etnográficas ao Mato Grosso, à Amazônia meridional, entrou em contato com a população dos Caduveus, dos Bororos, dos Nambikwava, dos Tupi Kawahib, e recolheu todo o material que depois ordenaria nos seus livros que, em seu conjunto, constituem o corpus mais significativo e filosoficamente interessante da antropologia do século XIX.


Nunca se deve falar mal da filosofia, porque, até em quem, depois de tê-la frequentado, a despreza, a filosofia trabalha como uma inquietação que rói a alma até que não lhe reste expressão. Aquele que seria o maior antropólogo do século XIX atribui a desilusão do seu aprendizado especulativo ao fato de a filosofia ser estéril como disciplina que se expressa como "système", enquanto pode tornar fecunda se se voltar ao que Lévi-Strauss chama de "concret", como havia feito Marx, que Lévi-Strauss havia lido aos 17 anos.


A sua oposição ao "sistema" se dirige também a todos aqueles antropólogos que haviam preferido as pesquisas "systématisantes", enquanto a verdadeira pesquisa, se quiser evitar conclusões dogmáticas, deverá ser pesquisa "sur le terrain" como a praticada por Marcel Mauss, aluno e sobrinho de E. Durkheim.
Mas nunca são as exigências puramente teóricas que induzem alguém a mudar de céu e a mudar de terra. Quando as estrelas não têm mais a mesma disposição com que aparecem na terra de origem, surge espontânea aquela pergunta que Lévi-Strauss se colocou depois de uma aventurosa peregrinação às florestas do Mato Grosso: "O que viemos fazer aqui? Com qual esperança? Com qual fim? Deixei a França há quase cinco anos, abandonei a minha carreira universitária; a minha decisão expressava uma incompatibilidade profunda com relação ao meu grupo social do qual, qualquer coisa que acontecesse, eu teria que isolar sempre mais".


Com base nessas perguntas e nos incômodos que as promoveram, há um contínuo e extenuante interrogar-se sobre o sentido e sobre o destino da civilização ocidental, das suas crenças e dos seus valores, todos embasados naquele orgulho eurocêntrico incapaz de perceber e de compreender a existência do Outro, não simplesmente teorizada em nível filosófico, mas tocado concretamente com as mãos na forma de outros povos, outras culturas, outras civilizações.


Lévi-Strauss vê outros "antípodas" do Ocidente: "O sinal de uma sabedoria que os povos selvagem praticaram espontaneamente, enquanto a rebelião moderna é a verdadeira loucura. Eles souberam, muitas vezes, alcançar com o mínimo esforço a sua harmonia mental. Economizaremos qualquer depressão, qualquer irritação inútil se aceitarmos reconhecer as condições reais da nossa experiência humana e pensarmos que não depende de nós liberar-nos inteiramente dos seus limites e do seu ritmo?".

 

Essa "antítese", que havia levado Lévi-Strauss a abandonar a Europa, poderia ser agora recomposta pela sua obra se formos capazes apenas de nos darmos conta, além do espírito de busca que a promoveu, da intenção profunda que a gerou e que podemos reassumir no conceito de que, independentemente de quão distantes suas latitudes estejam, e diversos os céus, os homens, se nenhum deles pensa estar no centro do mundo, são entre si muito semelhantes e por isso podem começar a falar e a dizer muito mais coisas do que já foram ditas sobre eles no curso da sua história.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Claude Lévi-Strauss - 1908 - 2009

A morte do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, aos 100 anos, na madrugada de sábado, em Paris, foi anunciada apenas ontem por colegas acadêmicos. Eles não revelaram a causa da morte, mas, no ano passado, Lévi-Strauss, com a saúde debilitada, não compareceu às homenagens públicas dedicadas pela França ao seu centenário de nascimento. O professor Philippe Descola, que o substituiu no cargo de diretor do laboratório de Antropologia do Collège de France, revelou que ele foi sepultado em Lignerolles, cidade a oeste da França, onde o antropólogo mantinha uma casa de campo. A reportagem é de Antonio Gonçalves Filho e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 04-11-2009.
Fonte: UNISINOS


Seu desaparecimento deixa o mundo menos inteligente e mais dependente de um herdeiro capaz de seguir na trilha aberta por esse que foi um dos maiores intelectuais do século pasado. Numa carreira de mais de 60 anos, Lévi-Strauss, filho de uma família judia de Bruxelas, publicou obras fundamentais que se converteram em clássicos da antropologia e da literatura, dos quais basta citar dois para comprovar sua importância: Tristes Trópicos (1955) e O Pensamento Selvagem (1962).

Lévi-Strauss, considerado o pai da antropologia moderna, é com justa razão lembrado como o reformador da disciplina. Introdutor do conceito de estruturalismo, ele buscou padrões subjacentes de pensamento em todas as formas de atividade humana, concluindo que nossa mente organiza o conhecimento em pares binários e opostos que se estruturam de acordo com a lógica - e isso vale tanto para o mito como para a ciência, segundo o antropólogo, que deu aulas na Universidade de São Paulo (USP).

O antropólogo foi professor na USP até 1938. Desembarcou no cais de Santos em 1935, em companhia do historiador Fernand Braudel (1902-1985), para ocupar a cadeira de sociologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Recepcionado pelo jornalista Julio de Mesquita Filho, então diretor de O Estado de S. Paulo e um dos idealizadores da Universidade de São Paulo, Lévi-Strauss desenvolveu com seus alunos um novo método pedagógico, começando por distribuir uma série de árvores genealógicas individualizadas para provocar uma reflexão sobre sua teoria da aliança.

Segundo essa teoria, "o parentesco tem mais a ver com a aliança entre duas famílias por casamento entre seus integrantes do que com a ascendência de um passado comum".

Não existiria, segundo ele, uma diferença significativa entre o pensamento primitivo e civilizado, tese desenvolvida no clássico O Pensamento Selvagem, considerado seu livro mais importante. Em outras palavras, o "pensamento de selvagens" não passa de uma invenção da modernidade. O que existe mesmo é um pensamento selvagem, atributo de toda a humanidade que podemos encontrar em nós mesmos, garante Lévi-Strauss, mas que, ainda segundo o antropólogo, preferimos buscar nas sociedades exóticas.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Entrevista - John Williamson


''A ideia de que o melhor Estado é o mínimo foi enterrada para sempre", atesta fundador do Consenso de Washington

John Williamson, o economista que cunhou a expressão "Consenso de Washington", diz que o Brasil deve elevar o imposto sobre capital estrangeiro para 4% ou 5% e afirma que a crise financeira enterrou de vez muitos dos princípios do chamado neoliberalismo - principalmente a ideia de que controle de capital é uma heresia. Williamson diz que o Fundo Monetário Internacional (FMI) erra ao condenar a taxa brasileira. A reportagem e a entrevista é de Patrícia Campos Mello e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 01-11-2009.
Fonte: UNISINOS

"O FMI deveria é assessorar os países com ideias para tornar os controles de capital mais eficientes", disse Williamson em entrevista, da sede do Instituto Peterson de Economia Internacional. Segundo ele, no Brasil, a alíquota de 2% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o capital estrangeiro "é parcialmente eficiente", então "pode ser necessário elevar o imposto para 4% ou 5%". Em artigo publicado no Financial Times, Williamson e seu colega Arvind Subramanian, do Peterson, criticam o Fundo por ter desaprovado o IOF.

O FMI disse que o imposto iria funcionar apenas temporariamente, porque eventualmente os investidores acham maneiras de burlar esses controles de capital. E não iria adiantar muita coisa se o Brasil não adotasse reformas e apertasse a política fiscal. Para Williamson, o imposto faz parte de um arsenal importante de que os países emergentes dispõem para lidar com excesso de fluxos de capital e superaquecimento da economia.

O sr. acha que foi inadequada a reação do FMI ao imposto sobre capital estrangeiro adotado pelo Brasil? Restrições de capital ainda são inaceitáveis?

Ainda é importante ser "amigável ao mercado", mas os países não devem mais ser dominados ou aceitar de forma passiva o julgamento do mercado, e isso ficou muito claro com a crise. O modelo que era visto como sacrossanto antes da crise asiática, que pregava a mobilidade de capitais, começou a mudar depois da crise da Ásia e completou sua transformação nessa crise.

Quais outros princípios do chamado Consenso de Washington, ou do que ficou conhecido como tal, mudaram por causa da crise?

Hoje se reconhece que há espaço para políticas keynesianas em tempos keynesianos, quando a economia está sofrendo de demanda agregada inadequada. E é necessário estatizar algumas coisas - privatização era uma das palavras de ordem do Consenso. Em alguns momentos, é preciso engatar uma marcha à ré nas privatizações. A ideia de que o melhor Estado é o mínimo foi enterrada para sempre.

O FMI continua não endossando políticas de restrição de capitais.

É um erro o FMI adotar essa postura fria e reservada. O Fundo deveria é assessorar os países sobre as formas mais eficientes de taxar o capital estrangeiro. Deveriam ajudar os países a implementar esse imposto e achar outras maneiras de desencorajar fluxos de capital. Ficar simplesmente dizendo que taxa sobre capital estrangeiro não é uma boa ideia, e dizer que o país tem que fazer todas essas coisas grandiosas antes, como restringir a política fiscal, isso não funciona.

O sr. acha que essa taxa pode ser eficiente, ou é legítima a crítica de que os investidores sempre acham maneiras de burlar esses controles?

É verdade que há maneiras de burlar. A taxa é parcialmente eficiente.

Mas, se é parcialmente eficiente, mesmo assim vale a pena manter o imposto?

Em vez de ter um imposto de 2%, pode ser necessário elevar a taxa a 4% ou 5% no Brasil.

Mas isso não espantaria demais os investidores?

Se os investidores querem ir para o Brasil, eles estão dispostos a pagar. Eu não vejo (essa elevação de taxa) como um ato muito hostil.

O Fundo diz que, com o IOF, o governo brasileiro pode se sentir tentado a adiar algumas reformas necessárias.

Isso é bobagem, pode-se fazer reformas ao mesmo tempo em que se adotam controles de capital.

E o Fundo diz também que esses controles de capital dificilmente vão ser muito eficazes se o Brasil não apertar sua política fiscal e baixar os juros.

De fato, provavelmente está na hora de o Brasil começar a desfazer suas políticas de expansão fiscal. Foi adequado adotar essas medidas no ano passado porque o mundo vivia uma recessão e havia grande perigo, então era necessário ter política fiscal expansionista. Mas agora chegou a hora de o Brasil começar a reduzir gastos do governo e, idealmente, ter um superávit nominal, não apenas primário.

Na reunião anual do FMI em Istambul, havia uma discussão forte sobre a necessidade de o Brasil deixar de acumular reservas e manter um pequeno déficit em conta-corrente. Esse seria o papel do País no processo de correção dos desequilíbrios globais. Mas muitos não concordam com essa ideia, já que o colchão de reservas ajudou o País a sobreviver melhor à crise. O que o sr acha?

Obviamente, há necessidade de um reequilíbrio global, mas não significa que países como o Brasil precisem parar de aumentar suas reservas. Eu não sei se é o melhor uso para os recursos do Brasil aumentar ainda mais o nível de reservas. Mas o principal problema é a China. E o Brasil deveria manter um déficit em conta corrente pequeno e o nível de reservas constante, talvez aumentando um pouco.

O sr. afirma que os países devem ter um arsenal de políticas contracíclicas para lidar com as crises.

Todos os países se beneficiariam de políticas contracíclicas. Mas é importante notar que só se pode iniciar uma política contracíclica na boa fase do ciclo, no alto. É preciso começar a economizar para poder gastar depois. Então agora é um ótimo momento para o Brasil começar.

Há a percepção de que haver maior expansão na política fiscal em 2010, ano de eleições.

Já tem havido expansão demais na política fiscal no Brasil e seria ótimo se os gastos do governo caíssem, mas isso é pedir demais em ano de eleição. Só esperemos que a situação não piore.

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