sábado, 7 de novembro de 2009

''O que vim fazer aqui?''. Lévi-Strauss no Mato Grosso


"Os livros de Claude Lévi-Strauss, a partir do material coletado no Brasil, constituem o corpus mais significativo e filosoficamente interessante da antropologia do século XIX". A opinião é de Umberto Galimberti, filósofo, psicólogo e psicanalista italiano. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 04-11-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS

Tudo começou com um telefonema às 9h da manhã de um domingo de outono de 1934, quando Célestin Bouglé, tornando-se intérprete de "um capricho um pouco perverso" de Georges Dumas, perguntou a Claude Lévi-Strauss, então com 27 anos, se estava disposto a partir para o Brasil sob o encargo de uma comissão encarregada de organizar a universidade de São Paulo. Lévi-Strauss, que então lecionava no Liceu de Laon, aceitou sem hesitar e partiu para o Brasil, onde permaneceu até 1939.


Nesses cinco anos, além da cátedra de sociologia que lhe havia sido confiada, Lévi-Strauss realizou expedições etnográficas ao Mato Grosso, à Amazônia meridional, entrou em contato com a população dos Caduveus, dos Bororos, dos Nambikwava, dos Tupi Kawahib, e recolheu todo o material que depois ordenaria nos seus livros que, em seu conjunto, constituem o corpus mais significativo e filosoficamente interessante da antropologia do século XIX.


Nunca se deve falar mal da filosofia, porque, até em quem, depois de tê-la frequentado, a despreza, a filosofia trabalha como uma inquietação que rói a alma até que não lhe reste expressão. Aquele que seria o maior antropólogo do século XIX atribui a desilusão do seu aprendizado especulativo ao fato de a filosofia ser estéril como disciplina que se expressa como "système", enquanto pode tornar fecunda se se voltar ao que Lévi-Strauss chama de "concret", como havia feito Marx, que Lévi-Strauss havia lido aos 17 anos.


A sua oposição ao "sistema" se dirige também a todos aqueles antropólogos que haviam preferido as pesquisas "systématisantes", enquanto a verdadeira pesquisa, se quiser evitar conclusões dogmáticas, deverá ser pesquisa "sur le terrain" como a praticada por Marcel Mauss, aluno e sobrinho de E. Durkheim.
Mas nunca são as exigências puramente teóricas que induzem alguém a mudar de céu e a mudar de terra. Quando as estrelas não têm mais a mesma disposição com que aparecem na terra de origem, surge espontânea aquela pergunta que Lévi-Strauss se colocou depois de uma aventurosa peregrinação às florestas do Mato Grosso: "O que viemos fazer aqui? Com qual esperança? Com qual fim? Deixei a França há quase cinco anos, abandonei a minha carreira universitária; a minha decisão expressava uma incompatibilidade profunda com relação ao meu grupo social do qual, qualquer coisa que acontecesse, eu teria que isolar sempre mais".


Com base nessas perguntas e nos incômodos que as promoveram, há um contínuo e extenuante interrogar-se sobre o sentido e sobre o destino da civilização ocidental, das suas crenças e dos seus valores, todos embasados naquele orgulho eurocêntrico incapaz de perceber e de compreender a existência do Outro, não simplesmente teorizada em nível filosófico, mas tocado concretamente com as mãos na forma de outros povos, outras culturas, outras civilizações.


Lévi-Strauss vê outros "antípodas" do Ocidente: "O sinal de uma sabedoria que os povos selvagem praticaram espontaneamente, enquanto a rebelião moderna é a verdadeira loucura. Eles souberam, muitas vezes, alcançar com o mínimo esforço a sua harmonia mental. Economizaremos qualquer depressão, qualquer irritação inútil se aceitarmos reconhecer as condições reais da nossa experiência humana e pensarmos que não depende de nós liberar-nos inteiramente dos seus limites e do seu ritmo?".

 

Essa "antítese", que havia levado Lévi-Strauss a abandonar a Europa, poderia ser agora recomposta pela sua obra se formos capazes apenas de nos darmos conta, além do espírito de busca que a promoveu, da intenção profunda que a gerou e que podemos reassumir no conceito de que, independentemente de quão distantes suas latitudes estejam, e diversos os céus, os homens, se nenhum deles pensa estar no centro do mundo, são entre si muito semelhantes e por isso podem começar a falar e a dizer muito mais coisas do que já foram ditas sobre eles no curso da sua história.

Projeto Excelências


Clique na imagem e leia as crônicas do professor Fonseca Neto no portal Acessepiauí

Este é um espaço para crítica social, destinado a contribuir para a transformação do Estado do Piauí (Brasil).

Livro

Livro
A autora, Grace Olsson, colheu dados e fotos sobre a situação das crianças refugiadas na África. Os recursos obtidos com a venda do livro possibilitará a continuação do trabalho da Grace com crianças africanas. Mais informações pelo e-mail: graceolsson@editoranovitas.com.br

Frei Tito memorial on-line

Frei Tito memorial on-line
O Memorial Virtual Frei Tito é um espaço dedicado a um dos maiores símbolos da luta pelos direitos humanos e pela democracia na América Latina e Caribe. Cearense, filho, irmão, frade, ativista, preso político, torturado, exilado, mártir... Conhecer a história de Frei Tito é fundamental para entender as lutas políticas e sociais travadas nos últimos 40 anos contra a tirania de regimes ditatoriais. Neste hotsite colocamos à disposição documentos, fotos, testemunhos, textos e outras informações sobre a vida de Tito de Alencar Lima, frade dominicano que colaborou com a luta armada durante a ditadura militar no Brasil.

Campanha Nacional de Solidariedade às Bibliotecas do MST

Campanha Nacional de Solidariedade às Bibliotecas do MST
Os trabalhadores e trabalhadoras rurais de diversos Estados do Brasil ocupam mais um latifúndio: o do conhecimento. Dar continuidade às conquistas no campo da educação é o objetivo da Campanha Nacional de Solidariedade às Bibliotecas do MST, que pretende recolher livros para as bibliotecas dos Centros de Formação. Veja como participar clicando na figura.

Fórum Social Mundial

Fórum Social Mundial
O Fórum Social Mundial (FSM) é um espaço aberto de encontro – plural, diversificado, não-governamental e não-partidário –, que estimula de forma descentralizada o debate, a reflexão, a formulação de propostas, a troca de experiências e a articulação entre organizações e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro mundo, mais solidário, democrático e justo. Em 2009, o Fórum acontecerá entre os dias 27 de janeiro a 1° de fevereiro, em Bélem, Pará. Para saber mais, clicar na figura.

Fórum Mundial de Teologia e Libertação

Fórum Mundial de Teologia e Libertação
É um espaço de encontro para reflexão teológica tendo em vista contribuir para a construção de uma rede mundial de teologias contextuais marcadas por perspectivas de libertação, paz e justiça. O FMTL se reconhece como resultado do movimento ecumênico e do diálogo das diferentes teologias contemporâneas identificadas com processos de transformação da sociedade. Acontecerá entre os dias 21 a 25 de janeiro em Bélem, Pará, e discutirá o tema "Água - Terra - Teologia para outro Mundo possível". Mais informações, clicar na figura.

IBASE

IBASE
O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) foi criado em 1981. O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, é um dos fundadores da Instituição que não possui fins lucrativos e nem vinculação religiosa e partidária. Sua missão é de aprofundar a democracia, seguindo os princípios de igualdade, liberdade, participação cidadã, diversidade e solidariedade. Aposta na construção de uma cultura democrática de direitos, no fortalecimento do tecido associativo e no monitoramento e influência sobre políticas públicas. Para entrar no site do Ibase, clicar na figura.

Celso Furtado

Celso Furtado
Foi lançado no circuito comercial o DVD do documentário "O longo amanhecer - cinebiografia de Celso Furtado", de José Mariani. Para saber mais, clicar na figura.

O malabarismo dos camaleões

O malabarismo dos camaleões
Estranha metamorfose: os economistas e jornalistas que defenderam, durante décadas, as supostas qualidades do mercado, agora camuflam suas posições. Ou — pior — viram a casaca e, para não perder terreno, fingem esquecer de tudo o que sempre disseram. Para ler, clicar na figura.

A opção pelo não-mercantil

A opção pelo não-mercantil
A expansão dos serviços públicos gratuitos pode ser uma grande saída, num momento de recessão generalizada e desemprego. Mas para tanto, é preciso vencer preconceitos, rever teorias e demonstrar que a economia não-mercantil não depende da produção capitalista. Para ler, clicar na figura.