sábado, 27 de dezembro de 2008

Sociólogo Léo Lince

Esquina da história

O ano da graça de 2008 se despede sem deixar saudades. Ele entrará para o calendário da história como marco inicial da grande crise do capitalismo globalizado. Foi o ano em que a crise chegou e, para espanto geral, ninguém se arrisca a fazer previsões. Até mesmo os estudiosos melhor aparatados para observar tal tipo de fenômeno se mostram desnorteados na turbulência generalizada. O tamanho, a duração e a profundidade da crise permanecem no terreno do indecifrável. Ninguém sabe de nada.

O pano de fundo sobre o qual se projeta, em termos comparativos, o potencial de destruição do abalo atual é a Grande Depressão de 29-33. George Soros, que conhece por dentro a roleta do cassino e também especula sobre os rumos da história, tem insistido sobre a virulência comum aos dois períodos. Agora, como naquela ocasião e ao contrário de surtos anteriores, o epicentro do terremoto se localiza no cerne e não mais na periferia do sistema capitalista. Vértice e principal beneficiário dos anos dourados do pós-guerra, o império americano vive dias de Pompéia.

A "bolha" que estourou no mercado imobiliário era apenas a espoleta. Na seqüência, a fidúcia do papelório desabou como castelo de cartas. As tentativas de contornar o problema como se ele fora um pequeno desacerto no escaninho da regulação financeira se destinaram ao fracasso imediato. A montanha de papéis podres, derivativos tóxicos e alavancas derretidas, bombas de efeito retardado espalhadas nos quatro cantos do mundo pela globalização financeira, desabou do centro para a periferia. Sufoca e soterra a atividade econômica em todos os quadrantes. O capitalismo ensandecido pela especulação desenfreada se revela como um "desvalor" universal.

O protocolo usado habitualmente para o tratamento das crises cíclicas não está dando resultado. A quantia bestial de dinheiro lançado na roleta financeira pelos Bancos Centrais mais poderosos do mundo desaparece como gotas de água no deserto tórrido. As "estatizações" para socializar prejuízos não dão conta do tamanho do buraco. A patente ineficácia do protocolo habitual aponta para um fato cada vez mais evidente: o ineditismo da crise atual. O receituário neoliberal, ao produzir a supremacia absoluta da casta financeira, redefiniu a morfologia e natureza do sistema inteiro. O "horror econômico" que destrói direitos no mundo do trabalho, o padrão predatório que coloca em risco o equilíbrio da natureza e a própria vida sobre a terra são elementos da crise que evidenciam os limites do capitalismo.

A idéia falsa de que a economia brasileira estaria "descolada" da crise durou pouco. A turbulência chegou galopante e, como a casta financeira está blindada pelo governo que lhe presta serviços, se instalou direto na economia real. E, com isso, 2008 se encerra enredado pela brutal reversão de expectativas. Sem que houvesse qualquer calamidade local, passamos do paraíso ao inferno sem baldeação no purgatório. Saem de cena: a comemoração basbaque do investment grade, a euforia com a alternativa energética dos biocombustíveis, a projeção de ganhos com o pré-sal miraculoso. No lugar, como num passe de mágica, entram: PDV, férias coletivas, demissões em massa. Não adiantam as reservas volumosas, "fundamentos" de acordo com o prescrito pela ordem dominante e outras "tecnicalidades": mantido o modelo vigente, a vulnerabilidade é total. E nos arrasta para o olho do furacão.

Existem períodos na história da humanidade em que o acumulado de fatos aparentemente desconexos, na economia, na política e na cultura, aponta para mudanças bruscas e profundas. A ordem mundial sofre os abalos da crise do capitalismo globalizado. A dinâmica dos conflitos sociais se destina a produzir uma conjuntura inteiramente nova. O rumo dos acontecimentos segue indefinido, mas já se sabe que nada será como antes, amanhã. Tudo indica que, a partir de 2008, passamos a viver em período de tal tipo, conhecido desde tempos imemoriais como esquina da história.

Fonte: Correio da Cidadania

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