quinta-feira, 26 de março de 2009

Antonio Cechin e Jacques Távora Alfonsin

A Campanha da Fraternidade e a violência do templo-mercado contra o templo-corpo-vítima


"Tanto o tema como o lema da Campanha da Fraternidade deste ano assumem candente atualidade para reflexão e ação imediatas em nosso Estado do Rio Grande do Sul para todos quantos não querem cair na tentação de engessar o lema (justiça) no tema (segurança)", escrevem Antonio Cechin e Jacques Távora Alfonsin no artigo que publicamos, hoje. Antonio Cechin é irmão marista, miltante dos movimentos sociais. Jacques Távora Alfonsin é advogado do MST e procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado. Fonte: UNISINOS



Estamos em plena quaresma de 2009. As Igrejas, nessa época, reservam tempo e espaço para a meditação e a penitência. O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é “fraternidade e segurança pública”, com o lema “a paz é fruto da justiça”. Tanto o tema como o lema assumem candente atualidade para reflexão e ação imediatas em nosso Estado do Rio Grande do Sul para todos quantos não querem cair na tentação de engessar o lema (justiça) no tema (segurança).

O tema da segurança, como se sabe, é sobejamente aproveitado por aquela parte preponderante da mídia, para transformar toda a notícia em má notícia, como ocorre agora com a criminalização diária dos movimentos sociais. Repressão pesada aos protestos populares, denúncias judiciais das suas lideranças, fechamento de escolas, mesmo que legalmente conveniadas para atender especificidades próprias de gente pobre.

O lema, diferentemente, inquire pela realidade das causas que fundamentam as atividades desses movimentos, aquelas muito bem camufladas sob o pretexto de que se deve respeito à lei. Não a prevista na Constituição Federal, da dignidade humana e da cidadania, por exemplo, mas somente aquela lei que garanta segurança para a propriedade privada, por maior que seja a insegurança com que essa possa vitimar multidões, como está ocorrendo agora com os desempregos massivos, as licenças ambientais apressadas, os abusos de autoridade praticados contra quem ousa reclamar.

Mesmo sob o risco de ideologizar a interpretação de um episódio vivido por Jesus Cristo, uma realidade como essa, no contexto do tema e do lema da Campanha da Fraternidade, parece poder inspirar as Igrejas e a ação dos cristãos contra a insegurança e a injustiça com que os poderes políticos e econômicos afligem os pobres, fazendo passar por “segurança” e “justiça”.

Encontrando mercadores no templo, em Jerusalém, Jesus os expulsou junto com as mercadorias, armado apenas de um relho ameaçador, mas principalmente de uma autoridade moral inquestionável. Desafiado pelos circunstantes a fazer um milagre que sustentasse tal autoridade, afirmou que, se o tal templo fosse destruído, ele o reconstruiria em três dias (Jo 2, 13 e seguintes), esclarecendo o evangelho que, aí, o templo referido seria o do Seu Próprio Corpo Morto e posteriormente Ressuscitado.

Que tem a ver tal episódio com a segurança e a justiça com que a Campanha da Fraternidade pretende inspirar a defesa urgente dos direitos sob risco ou já violados, pela realidade que o nosso Estado vem assistindo? O templo dos direitos patrimoniais, baseados no ter da propriedade privada, levou séculos para ser construído, enriquecendo poucos e vitimando muitos. Enrijeceu como um templo-de-pedra, mas, para seu pesar, vem sendo contestado por um templo-refúgio (como o das catacumbas), feito do próprio corpo miserável e pobre das suas vítimas (como o corpo de Jesus Cristo crucificado).

Do ponto de vista exclusivamente jurídico, pode-se dizer que esse é o templo-lugar dos direitos humanos fundamentais sociais, baseados no ser, não por acaso identificado como de segunda, terceira e, até, de quarta geração, se levarmos em conta a moderna defesa do meio-ambiente. Feito pedra, o primeiro somente poderá ser destruído pelo segundo, levada em conta a advertência de Jesus Cristo, pela ressurreição do amor e do respeito devido ao mesmo corpo de quantas/os o primeiro matou e vem matando.

Haja fé, pois, daquelas/es que acreditam nessa vitória, nessa boa nova em favor de vítimas, num tempo tão urgente, necessário e breve ( significado escatológico dos 3 dias), quanto longa, penosa e sacrificial tem sido a construção do templo-mercado- de-pedra dos direitos patrimoniais (aqui se considerando significado simbólico dos 46 anos que Salomão levou para construir o templo de Jerusalém).

Parece não haver outra saída que não a apontada pela vida com liberdade, não a das coisas-mercadoria mas sim a dos corpos escravizados, oprimidos, excluídos. Meio termo, em defesa da vida, parece impossível: “Creio eu que nós seres humanos nos dividimos em dois grupos: aqueles que dão (e damos) a vida, é claro, e aqueles que não dão, certamente, a vida; e na minha opinião, conforme se esteja neste ou naquele grupo mencionado, se vêem as coisas de maneira diferente. Como se compreendem os direitos humanos, a democracia, a liberdade, instituições como o sistema bancário, o aparelho judiciário, as forças armadas...varia enormemente conforme se esteja neste ou naquele grupo. E isto, creio eu, vale também no essencial para a compreensão da religião, da Igreja, da fé, da oração, da esperança... Em suma, da vida e da morte.” [1]


Nota:

1. SOBRINO, Jon. A fé em Jesus Cristo. Trad. de Ephraim F. Alves, Petrópolis: Vozes, 2000, p. 18.

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