quarta-feira, 7 de julho de 2010

Josep Maria Antentas e Esther Vivas

O Mundial das desigualdades


O artigo de Josep Maria Antentas e Esther Vivas, autores de Resistencias Globales. De Seattle a la crisis de Wall Street (Ed. Popular, 2009), publicado pelo jornal Público, 05-07-2010 e reproduzido por EcoDebate, 07-07-2010.
Fonte: UNISINOS

As conseqüências sociais do ajuste neoliberal têm sido muito drástica. O desemprego disparou de 16% em 1990 até 40% na atualidade (ainda que as cifras oficiais falem de 23%). A taxa de pobreza está em torno de 50% e afeta de forma muito mais drástica a população negra. Assim, 75% das crianças negras vivem na pobreza enquanto as brancas são 5%. A polarização da renda se acentuou, o coeficiente de Gini, que mede a desigualdade social (sendo 1 o valor de máxima desigualdade), se situou no começo dos anos 2000 em 0,77% frente a 0,68% de 1992. Nos 10% dos lugares mais ricos do país concentram 50% da riqueza,enquanto que 40% dos mais pobres, só 7%. A privatização dos serviços públicos impulsionada no começo dos anos 2000, sob uma política considerada “ modelo” na época, pelo Banco Mundial, comportou um forte aumento do preço dos serviços básicos como água e luz, o que provocou cortes massivos a cerca de dez milhões de famílias porque não puderam pagar as contas.

Estes processos de aumento das desigualdades têm sido acompanhadas pelo surgimento de uma pequena nova classe media negra e uma pequena elite empresarial negra, cujos interesses são diferentes dos da maioria da população pobre. Por tudo isso, a evolução da sociedade sul africana têm sido definida por muitos analistas críticos como uma transição desde o apartheid racial ao apartheid de classe, em que as mudanças políticas acontecidas depois do fim do regime racista não têm sido acompanhado de mudanças substanciais no terreno material e dos direitos sociais.

A África do Sul que acolhe o Mundial é um país dividido e com fortes contradições sociais, e em que os benefícios do evento serão para uma pequena minoria, começando pelas grandes empresas do setor da construção. De certa forma, como assinala o renomado comentarista desportivo Dave Zirin, o Mundial têm sido uma espécie de “Cavalo de Tróia Neoliberal, que têm permitido uma série de políticas que não haviam sido aceitas por parte da sociedade sulafricana em caso de não haver tido a honra de sediar o Mundial”.

A maior crítica ao governo é seu enorme gasto, um total de 9,5 milhões de dólares, financiados essencialmente a través do endividamento público para construção de grandes instalações esportivas cuja utilidade posterior ao Mundial está muito pouco clara, e em infra-estrutura de transporte de luxo. Entre elas, o trem de alta velocidade Gutrail, destinado a elite dos negócios e aos setores acomodados.

O desvio de investimentos públicos para projetos faraônicos e de pouca utilidade social, ou orientados a uma minoria, contrasta com a incapacidade do governo de satisfazer algumas necessidades sociais básicas, como construir uma rede de transporte público eficiente ou solucionar o gravíssimo problema habitacional. Na África do Sul, milhões de pessoas vivem em favelas e a bolha imobiliária dos anos recentes de crescimento econômico e bomm especulativo têm feito aumentar o preço das habitações em 400%.

Assim, se calcula que o gasto para o Mundial equivale a tudo o que foi investido entre 2000 e 2010 em habitação pública. Nas palavras do Fórum Contra a Privatização de Johannesburgo, “o governo têm conseguido, em muito pouco tempo, construir infra-estruturas de primeira das quais a maioria dos sulafricanos não vai beneficiar-se nem poder desfrutar”. Também há prejudicados diretos pelo evento como os vendedores ambulantes, expulsos das proximidades das grandes instalações esportivas, ou os pescadores em zonas como Durban, que têm visto restringidas suas áreas de pesca habituais.

O impacto das políticas neoliberais provocou a emergência desde finais dos anos noventa de crescentes resistências sociais, contra a privatização e os cortes sociais, convertendo a África do Sul de novo em uma referência para o protesto social no continente africano. Lutas sociais cujas raízes estão em outro contexto histórico, como o movimento contra o apartheid e seu espírito de libertação social. Muitos destes movimentos, como o Abahalai base Mjondolo, que agrupa os habitantes das favelas dos grandes centros urbanos, tentam, nestes dias, apesar da restrição oficial a qualquer tipo de manifestação até 15 de julho, fazer-se visível e explicar ao mundo sua história de exclusão e marginalidade.

Quando os elefantes estão em festa, a erva sofre”, reza um velho provérbio africano. É uma boa forma de ter presente esta outra África do Sul que não devemos esquecer.

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