O comentário de Zuenir Ventura, publicado no jornal O Globo, 07-07-2010.
Fonte: UNISINOS
Hoje, segundo o humor do Agamenon, nem o Schweinsteiger consegue se comunicar com os colegas porque é o único do time a falar alemão. Quanto às chuteiras, a pátria agora é de Nikes e Adidas.
Um dos ingredientes mais perniciosos da fase de preparação foi aquele clima ufanista de patriotismo bélico criado por campanhas publicitárias tentando transformar um torneio esportivo em guerra. O importante não era ser competente, talentoso, mas guerreiro, como o Luís Fabiano do anúncio: “Vai encarar?” Guerreiro e brahmeiro passaram a ser uma rima edificante para brasileiro. Deu no que deu. A seleção teve guerreiros (um, mais aguerrido, chegou a pisar no inimigo no chão), e esqueceu os craques.
Mas a gente não se emenda. Para manter o clima e alimentar a fantasia, já no dia seguinte ao nosso fracasso estava no ar uma nova mensagem comercial garantindo a redenção em 2014 - “Aqui não vai ter pra ninguém” - como se a simples mudança de lugar fosse suprir nossas deficiências.
Nem o exemplo do desastre de 1950 em casa abala o nosso ufanismo. Felipão (ou outro qualquer) virá para dar jeito no time, como em 2006 Dunga foi chamado para corrigir os defeitos deixados por Parreira.
Há sempre um salvador para enterrar nossos sonhos.
A derrota para a França despertou na época uma série de reflexões que ainda são atuais. O tema da mobilização passageira foi uma delas. Por que os mesmos moradores que se cotizaram para enfeitar suas ruas, encomendar chope, organizar festas, são incapazes de algo parecido no dia a dia? Sequer se unem para cobrar das autoridades mais limpeza ou mais segurança, por exemplo. É um mistério. Mesmo perdendo a Copa, “é melhor ser alegre que ser triste”, já ensinava Vinicius. Também acho que a alegria faz bem às pessoas e aos países. Mas é preciso fazer com ela algo mais do que gritar e pular a cada quatro anos.