terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Entrevista - Noam Chomsky

Entrevista publicada no Jornal Folha de São Paulo em 7 de dezembro de 2008


Obama não me ilude, diz Chomsky

Ícone da esquerda, pensador afirma que presidente eleito é democrata familiar de centro, como Clinton. Aos 80 anos, que completa hoje, lingüista e teórico político americano é um dos principais intelectuais progressistas em atividade

Sérgio Dávila de Washington

Noam Chomsky completa 80 anos hoje. O lingüista e teórico político do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) chega à idade redonda militando ativamente na esquerda da esquerda do espectro político dos EUA. Isso faz dele um espécime tão raro quanto foi um dia o pássaro dodô.

Outra característica o coloca na exceção: ele está desencantado com Barack Obama. Talvez desencantado não seja a palavra exata, já que ele dá a entender que nunca se encantou com o presidente eleito. Não acha que o movimento que lhe deu a vitória seja democrático. Diz que parece mais uma "ditadura por escolha". Nascido na Filadélfia e professor emérito do MIT, onde leciona há 53 anos, Chomsky é considerado o pai da lingüística moderna. De acordo com sua teoria, chamada gramática transformacional, toda sentença inteligível contém não só suas regras gramaticais peculiares como o que batiza de "estruturas profundas", uma gramática universal que serve a todas as línguas.

Na última semana, ele trocou com a Folha uma série de e-mails. Primeiro, se queixou da falta de tempo. "É com alegria que leio seu e-mail, embora com um pouco de remorso, também", diz em um. "Acontece que a época é muito difícil para mim." Noutro, se desculpa: "Sinto que terei de ser breve. Se eu não respondê-lo, a entrevista desaparecerá no caos de pedidos irrespondidos".
Leia a seguir os principais trechos da correspondência:

FOLHA - Como o sr. planeja celebrar seu aniversário?
NOAM CHOMSKY - Como um dia normal.

FOLHA - Há 50 anos, quando o sr. tinha 30, esperava ver um dia um negro na Presidência dos EUA?
CHOMSKY - Não. Até há bem pouco tempo nem esperava que os dois candidatos finalistas do Partido Democrata seriam uma mulher e um afro-americano. O fato de isso ter acontecido é um tributo ao ativismo dos anos 60 e suas conseqüências, que tiveram um efeito civilizador no país. A opinião da elite européia não está inteiramente errada quando observa com espanto que "só nos EUA um milagre como esse poderia acontecer".

Pelos padrões ocidentais, a eleição de um afro-americano 150 anos após a abolição da escravidão é realmente um evento histórico, diferentemente de na Europa, que é provavelmente mais racista que aqui. As democracias sul-americanas oferecem conquistas muito mais importantes, na Bolívia e no Brasil, por exemplo. E isso vale para o resto do Sul. Mas o racismo ocidental evita o reconhecimento, mesmo a constatação, de fatos como esses.

FOLHA - O sr. acha que Barack Obama está fadado a decepcionar parte das pessoas que votaram nele - e parte da opinião pública mundial-, dadas as impossivelmente altas expectativas a seu respeito?
CHOMSKY - Aqueles que escolheram se iludir sem dúvida vão ficar desapontados. Mas não se pode culpar Obama por isso. Afastada sua "retórica altiva", que parece ter impressionado tanta gente, ele nunca se apresentou como outra coisa além de um democrata familiar de centro, mais ou menos no molde de Bill Clinton [presidente de 1993 a 2001].

A natureza da eleição é muito bem compreendida pelos chefes dos partidos. Para ilustrar, a cabeleireira de Sarah Palin recebeu o dobro do salário do conselheiro de política externa de John McCain -e ela foi decerto duas vezes mais importante para a campanha. A indústria de relações públicas, que apregoa abertamente vender os candidatos da mesma maneira que vende mercadorias, deu seu prêmio anual na categoria "melhor marketing" à venda da "marca Obama". A mídia de todas as tendências o elogia por organizar um "exército" que não contribui nada para as políticas do seu futuro governo, só espera instruções de como apoiar sua agenda, seja ela qual for.

Esse modelo é, muito claramente, não-democrático, mas um tipo de ditadura por escolha, uma construção política na qual o público -"observadores intrusos e ignorantes"- são "espectadores da ação", não "participantes", conforme o defendido por teóricos progressistas da democracia [nesse caso, o analista político Walter Lippmann, 1889-1974].

FOLHA - Qual sua opinião sobre as primeiras indicações do gabinete obamista, gente como Hillary Clinton no Estado, Robert Gates permanecendo na Defesa, Timothy Geithner no Tesouro? Era esse tipo de mudança que o sr. esperava?
CHOMSKY - Eu não esperava muito, mas fiquei surpreso que as escolhas de Obama causassem tamanho desdém em seus eleitores.
Suas seleções estão tão inclinadas para a "não-mudança" e a "não-esperança" que Obama se sentiu obrigado a convocar uma entrevista coletiva, onde ele explicou que o seu governo será baseado na experiência e na visão: seu gabinete entrará com a experiência, ele dará a visão. Isso deve confortar os incréus.



Parece que o novo presidente americano quer enfrentar a crise com uma mobilização como a que o elegeu, sem descer à raiz dos problemas

Noam Chomsky, lingüista do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e militante da esquerda americana, fez, em entrevista ao correspondente da Folha de S. Paulo nos EUA, Sérgio Dávila, duas afirmações que vale a pena destacar, sobre a vitória de Barack Obama na eleição para a Presidência americana:

• O fato de um afrodescendente e uma mulher (Hilary Clinton) terem sido os finalistas no processo de escolha do candidato do Partido Democrata à disputa presidencial americana “é um tributo ao ativismo dos anos 1960” naquele país, cujas conseqüências “tiveram um efeito civilizador [...] Mas muitos querem exagerar esse significado, sem admitir, por exemplo, que as vitórias de um operário metalúrgico no Brasil [Lula] e de um descendente de índios na Bolívia [Evo Morales] têm também um significado semelhante”.

• Obama é um “democrata de centro”, como Bill Clinton. Sua eleição foi como a venda de uma marca: a mídia em geral o elogiou por organizar um exército de apoiadores, “que não contribuiu em nada para as políticas de seu governo e só espera instruções para apoiar sua agenda, seja ela qual for”. Citando um teórico político progressista americano, o analista Walter Lippman (1889-1974), Chomsky diz que o processo de venda da “marca Obama” é uma construção política não democrática, na qual o público é dado como um conjunto de “observadores intrusos e ignorantes”, de “expectadores da ação”, e não de “participantes”.

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